sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Figuras de linguagem

Figuras de Linguagem são recursos que tornam as mensagens que emitimos mais expressivas. Subdividem-se em figuras de som, figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras de construção. 
-As figuras de som produzem efeitos na linguagem, como por exemplo, quando há repetição de sons ou, ainda, quando se procura "imitar" sons produzidos por coisas ou seres. A onomatopeia é uma figura de som. Veja:
Onomatopéia:  Ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou  um som. São verbos onomatopaicos: cacarejar, tiquetaquear, miar, etc
 Ex: “O silêncio fresco despenca das árvores.
        Veio de longe, das planícies altas,
        Dos cerrados onde o guaxe passe rápido...
        Vvvvvvv... passou.”
 Ex:  A língua do nhem "Havia uma velhinha 
        Que andava aborrecida 
        Pois dava a sua vida 
        Para falar com alguém.
        E estava sempre em casa 
        A boa velhinha, 
        Resmungando sozinha: 
        Nhem-nhem-nhem-nhem-nhem..."
                              (Cecília Meireles)
-As figuras de palavras são figuras de linguagem que consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação. veja alguns exemplos de figuras de palavras:          
ComparaçãoOcorre quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos: assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros.
Ex:  “Eu faço versos como quem chora
        De desalento... de desencanto...”
                                         (M. Bandeira)
Ex:    Meu coração está igual a um céu cinzento.

Metáfora: É uma comparação mental ou subentendida (abreviada), prevalecendo a relação de semelhança. Não aparece a conjunção “como”
Ex: “Meu coração é um balde despejado.”
                                                  (Fernando Pessoa)
     “O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais.”
                              
(Carlos Drummond de Andrade)
      "Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão."
   
Metonímia: É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Ocorre metonímia quando empregamos:
-Efeito pela causa:
Ex: Sócrates tomou a morte. (por veneno)
 -Autor pela obra:
Ex:  Gosto de ouvir Caetano Veloso.
         Ela aprecia ler Jorge Amado
        Comprei um Portinari.
-Continente pelo conteúdo:
Ex:  Antes de sair, tomamos um cálice de licor.
       No aniversário daquela atriz foram servidos mais de vinte pratos deliciosos.
Parte pelo todo:
Ex:  A choupana não suportou quatro invernos.
       Não tinha um teto onde cair morto.
-Singular pelo plural:
Ex: O homem, que é mortal, imortaliza-se por meio de suas conquistas.
 -O lugar de origem ou de produção pelo produto:
Ex:  Comprei uma garrafa do legítimo porto. (O vinho da cidade do Porto.)
       Ofereceu-me um havana. (Um charuto produzido em Havana.)
-O abstrato pelo concreto:
Ex:  Não devemos contar com o seu coração. (Sentimento, sensibilidade)
       A velhice deve ser respeitada.  (As pessoas idosas.)
-O símbolo pela coisa simbolizada:
Ex: A coroa foi disputada pelos revolucionários. (O poder.)
      Não te afastes da cruz. (O cristianismo.)
 -A matéria pelo produto:
Ex: Lento, o bronze soa. (O sino.)
       Joguei duas pratas no chapéu do mendigo. (Moedas de prata.)
 -O instrumento pela pessoa que o utiliza:
Ex:  Ele é um bom garfo. ( Guloso, glutão)
 - A marca pelo produto:
Ex: Vá comprar bombril no mercadinho.
       Vamos tomar uma coca-cola bem gelada.

Catacrese: É uma metáfora desgastada, tão usual que já não percebemos. Assim, a catacrese é o emprego de uma palavra no sentido figurado por falta de um termo próprio.
Ex: folhas de livro, pele de tomate, dente de alho, céu da boca, cabeça de prego, mão de direção, ventre da terra, asa da xícara, etc.
Sinestesia: interpretação sensorial, onde fundem-se dois sentidos ou mais (olfato, visão, audição, gustação e tato).
Ex.: O sol de outono caía com uma luz pálida e macia.
      Dirigiu-lhe uma palavra branca e fria como agradecimento”.
      Um grito áspero revelava tudo o que sentia. 

Perífrase - antonomásia: ocorre quando utilizamos expressões especiais para falar de alguém ou de algum lugar. Utilizamos a perífrase quando se tratar de lugares ou animais e a antonomásia quando se tratar de pessoas. Na linguagem coloquial, é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome.
 Ex: O rei dos animais rugia alto diante da ameaça. (leão)
      “Cidade maravilhosa (Rio de Janeiro)
       Cheia de encantos mil”
       Cidade-luz = Paris.
       O filósofo de Genebra (Calvino);
       O águia de Haia (Rui Barbosa),
       O Aleijadinho esculpiu (Antônio Francisco Lisboa).

-As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. Veja alguns exemplos:
Antítese: Aproximação de palavras de sentidos opostos.
Ex:  “Eu que sou cego – mas peço luzes...
       Que sou pequeno, - ma só fito os Andes...”
                                          (Castro Alves)
“Quando um muro se separa, uma ponte se une.”

“Nao existiria som se não houvesse o silencio”

Paradoxo: Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias contraditórias.
Ex:  “Amor é fogo que arde sem doer
        É um contentamento descontente
        É ferida que dói e não se sente
        É dor que desatina sem doer."

Apóstrofe: Figura pela qual o narrador interrompe o discurso para dirigir-se a uma pessoa ausente ou não, a um objeto inanimado ou a uma ideia abstrata:
Ex: “Ó mar, porque não apagas co’a espuma de tuas vagas, de teu manto borrão?”
      “Senhor, Deus dos desgraçados,
       dizei-me, Senhor Deus,
       se é mentira ou se é verdade
       tanto horror perante os céus.”

Eufemismo: Substituição de uma palavra ou expressão desagradável ou áspera por outra mais amena.
 Ex: Você faltou com a verdade a um homem. 
 Um senhor pegou seu carro sem lhe avisar  e sem a intenção de devolver!
 Ele foi repousar no céu, junto ao Pai.
Os homens públicos envergonham o povo.

Hipérbole: Afirmação exagerada de uma ideia.
  Ex: Falei trezentas vezes para você!
        Rios te correrão dos olhos, se chorares. (Olavo Bilac)
      
Ironia: utilização de um termo com sentido oposto ao que se quer realmente dizer.
Ex: O ministro foi sutil como uma jamanta.
    “Moça linda bem tratada,
      três séculos de família,
      burra como uma porta:
      um amor!
             (Mário de Andrade)

Personificação ou prosopopéia: Atribuição de ações, qualidades ou sentimentos a seres inanimados. Também a atribuição de características humanas a seres animados constitui prosopopéia, como este exemplo de Mário Quintana: “O peixinho (...) silencioso e levemente melancólico....” 
 Ex: “O tempo passou na janela e só Carolina não viu.”
                                    (Chico Buarque)
        
“... os rios vão carregando as queixas do caminho.”
                                              ( Raul Bopp)

-As figuras de sintaxe dizem respeito a desvios em relação à concordância entre termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões. Veja as principais:
Elipse: Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos.
Ex:  “No mar, tanta tormenta e tanto dano”.
                                                        (Camões)
“Foi saqueada a vila, e assassinados os partidários dos Filipes.”  
                                                        (Camilo Castelo Branco) 
 “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas.”
                                                                          (Rubem Braga) 
Anáfora: Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.
Ex:  “Eu quase não saio
        Eu quase não tenho amigo
        Eu quase não consigo
        Ficar na cidade sem viver contrariado.”
                                             (Gilberto Gil)
 “Grande no pensamento, grande na ação, grande na glória, grande no infortúnio, ele morreu desconhecido e só”.                                                                                                                                  (Rocha Lima)
Pleonasmo: quando há repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado. 
a) Pleonasmo literário: É o uso de palavras redundantes para reforçar uma idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista sintático. É um recurso estilístico que enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.
Ex: “Iam vinte anos desde aquele dia
       Quando com os olhos eu quis ver de perto
       Quanto em visão com os da saudade via.”
                                   (Alberto de Oliveira)
     “Morrerás morte vil na mão de um forte.”
                              (Gonçalves Dias)
     “Ó mar salgado, quanto do teu sal
       São lágrimas de Portugal”
                                       (Fernando Pessoa)
b) Pleonasmo vicioso:  É o desdobramento de idéias que lá estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do sentido real das palavras.
Ex:  subir para cima / hemorragia de sangue /entrar para dentro /monopólio exclusivo /repetir de novo /ouvir com os ouvidos/ principal protagonista, etc


Inversão/ hipérbato: Inversão da ordem natural das palavras na frase ou de oração no período.
 Ex: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
         De um povo heróico o brado retumbante”
                                              
        “Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.”
                                (Carlos Drummond de Andrade)
Silepse: Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a ideia a elas associada. É uma concordância ideológica ou mental, afastando-se das formas normais de concordância. A silepse pode ser:
 Silepse de gênero: quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino)
 Ex: A grande e concorrida São Paulo.
 “Admitindo a ideia de que eu fosse capaz de semelhante vilania, Sua Majestade foi cruelmente injusto para comigo” 
              (Alexandre Herculano)
 Silepse de número:  Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).
 Ex: A multidão assistia satisfeita, aplaudiam e acreditavam.
“Esta gente está furiosa e com medo; por conseqüência, capazes de tudo.”  (Garret)
 “Corria gente de todos lados, e gritavam.” (Mário Barreto)

Silepse de pessoa: Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal.
 Ex: Você e os que pensam assim, não teremos muitas surpresas.
  “A gente não sabemos escolher presidente
    A gente não sabemos tomar conta da gente.”
                                         (Roger Rocha Moreira)
“Ambos recusamos praticar este ato.”
                                           (Alexandre Herculano)