terça-feira, 6 de maio de 2014

Bateria de exercício - Simbolismo

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…
                                   (Alphonsus de Guimaraens)

1) Qual o tema do poema Ismália?
a) A loucura e a morte
b) A solidão e o isolamento
c) O amor e a salvação
d) A natureza e a beleza
e) Delírio e loucura

2) Chamamos de antítese a figura de linguagem que consiste no emprego de termos com sentidos opostos. Qual das alternativas a seguir apresenta uma antítese?

a) “Quando Ismália enlouqueceu, / Pôs-se na torre a sonhar...”
b) “ Estava perto do céu, / Estava longe do mar...”
c) “E como um anjo pendeu / As asas para voar...”
d) “As asas que Deus lhe deu / Ruflaram de par em par...”

3) De acordo com alguns versos do poema, Ismália queria subir ao céu e descer ao mar. Esse desejo de Ismália representa:
a) uma postura contraditória
b) uma postura racional
c) uma postura religiosa
d) uma postura romântica
e) uma postura realista

4) O Simbolismo, por ser um movimento antilógico e antirracional, valoriza os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. São palavras que compravam essa característica simbolista no texto, EXCETO:
a) enlouqueceu
b) sonhar
c) cantar 
d) desvario

5) De que forma Ismália conseguiu realizar seu sonho?
a) sonhando
b) suicidando-se 
c) banhando-se
d) cantando
e) delirando

6) Considere as afirmações abaixo sobre o poema “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens.
I. Todo o poema é construído com base em antíteses. As antíteses articulam-se em torno dos desejos contraditórios de Ismália, que se dividem entre a realidade espiritual e a realidade concreta.
II. A partir da análise deste poema podemos afirmar que, para os simbolistas, sonho e loucura levam à libertação, pois a razão e a lógica aprisionam o homem. Dar vazão ao mundo interior; explorar zonas ocultas da mente humana é o mesmo que transcender os limites do mundo real.
III. De acordo com o desfecho do poema, o céu recebe a alma; logo, liga-se ao aspecto espiritual. O mar recebe o corpo; logo, representa o universo material.

-Quais estão corretas?
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e II
e) I, II e III

7) Sobre Alphonsus Guimaraens, afirma Alfredo Bosi, na História Concisa da Literatura Brasileira, “… foi poeta de um só tema: a morte da amada”. Essa obsessão faz do mundo ao redor cúmplice permanente de suas dores, como se vê na seguinte estrofe desse poeta.
a)  “Ontem, à meia-noite, estando junto
      A uma igreja, lembrei-me de ter visto
      Um velho que levava às costas isto:
      Um caixão de defunto.”

b) “Espectros que têm voz, sombras que têm tristezas
     Perseguem-me: e acompanho os apagados traços
     De semblantes que amei fora da natureza.”

c) “E o sino canta em lúgubres responsos
     Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

d) “O olhar fito no chão, como desfeito
      Em sangue, o velho, sem me olhar segura,
      E ouvir-lhe a única frase que dizia:
      Vou levando o meu leito.”

e) “Hão de chorar por ela os cinamomos
     Murchando as flores ao tombar do dia.
    Dos laranjais hão de cair os pomos,
    Lembrando-se daquela que os colhia.”

8) De acordo com o texto:
a) Ismália sempre foi mentalmente perturbada.
b) Ismália conseguiu sonhar uma única vez, mas somente depois de estar louca.
c) Pôs-se na torre significa também procurou o isolamento.
d) A loucura de Ismália é uma consequência do seu sonho.
e) Somente estando louca, uma pessoa pode querer ter uma lua no céu e outra no mar.

9) O texto responde afirmativamente a todas as  perguntas, exceto:
a) Há apenas duas duplas de palavras que se opõem pelo significado ( longe X perto, céu X mar) ?
b) Trata-se de um fato que pode ser narrado em prosa?
c) Ismália procurou realizar o seu sonho?
d) Ismália estava mais perto do céu por estar na torre?
e) O poeta concebe o céu como um lugar que fica no alto?

10) O verso “No sonho em que se perdeu” nos informa que Ismália:
a) Já não tinha mais uma noção racional da realidade.
b) Sabia antecipadamente que, se sonhasse, ela se veria em uma torre.
c) Tinha plena consciência do que estava fazendo ao sonhar com as duas luas.
d) Voltou a de ter noção da realidade somente um pouco antes do voo mal sucedido.
e) Dormindo ou acordada, sua única realidade sempre tinham sido as luas vistas da torre.

11) O verso “Na torre pôs-se a cantar” sugere principalmente que:
a) Ismália, antes de enlouquecer, alternava momentos de alegria e de tristeza.
b) Ismália, por considerar-se perto do céu, poderia já estar identificando-se com um anjo.
c) A moça cantava porque imaginava que a torre era um palco.
d) A velha, muito religiosa, sabia que somente os anjos cantam a glória de Deus.
e) Os loucos, como não conseguem falar direito, comunicam-se através do canto.

12) Os versos “E como um anjo pendeu / as asas para voar” indicam que:
a) Ismália, dada a sua pureza, já era um anjo em vida.
b) O sonho da vida inteira de Ismália era tornar-se um anjo.
c) Os anjos são seres imateriais, entretanto só voam porque têm asas.
d) Ismália fez movimentos como para preparar-se para alçar voo.
e) Ismália tinha consciência de que, sem asas, não poderia voar.

13) O poema Ismália é o mais popular de Alphonsus de Guimaraens.
1- Identifique alguns elementos responsáveis pela intensa musicalidade que caracteriza o poema, considerado antologico tanto em relação à produção do autor quanto em relação ao simbolismo brasileiro.

2- Na segunda estrofe quais são os desejos de Ismália e o que representam?

3- Na quarta estrofe, o que acontece com Ismália?
a) Do ponto de vista de uma visão racional da existência.

b) Do ponto de vista de uma visão simbolista da existência. 

14) Analise as proposições a seguir sobre o simbolismo, como escola literária. Escreva (F) para as falsas e (V) para as verdadeiras, seguindo a ordem em que se apresentam.
I - Apresenta-se como uma estética oposta à poesia objetiva, plástica e descritiva, praticada pelo Parnasianismo, e como uma recusa aos valores burgueses. (  )
II - Define-se pelo irracional, descobrindo um mundo estranho de associações, de ideias e sensações. (  )
III - Propõe uma poesia pura, hermética e misteriosa, que usa imagens, e não conceitos. (  )
IV - Foi um movimento de grande receptividade e repercussão junto ao público brasileiro.(   )
V - Revolucionou a poesia da época, com o uso de versos livres e de uma temática materialista. (     )

-A alternativa correta é:
a) v – v – v – v – v
b) v – f – v – f – v
c) f – v – f – v – f
d) f – f – v – v – f
e) v – v – v – f - f

15) Observe o verso: “Ó sonora audição colorida do aroma”. Assinale a alternativa que caracteriza o verso quanto ao estilo de época:
a) É simbolista: o autor usa palavras que transmitem sensações diversas e simultâneas de audição, visão e olfato.
b) É romântico: explora uma linguagem emocional voltada para os problemas íntimos.
c) É parnasianista: cultiva a perfeição sonora, o vocabulário preciosista, o delírio de grande musicalidade.
d) É barroco: sua linguagem é densamente figurada com paradoxos sensacionais.
e)  É neoclássico: valoriza uma descrição idílica e sonora da natureza.

16) Coloque V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações que seguem.
(   ) Os temas centrais desse poema, bem marcados nas duas primeiras estrofes, são o amor e a saudade.
(   ) Um dos mais significativos poemas simbolistas, Ismália aborda a dualidade entre corpo e alma.
(  ) A partir de um jogo intertextual, o poema de Alphonsus de Guimaraens parodia o drama de Narciso diante do espelho.

-A sequência correta é:
a) F, V, F.   
b) V, V, F.   
c) V, F, F.   
d) F, F, V.   
e) V, F, V.   

17) Relacione o poema Ismália a estes versos de Carlos Drummond de Andrade:
            Não serei o poeta de um mundo caduco.
            Também não cantarei o mundo futuro.
            Estou preso à vida e olho meus companheiros.
            Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
            Entre eles, considere a enorme realidade.
            O presente é tão grande, não nos afastemos.
            Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

-É correto afirmar que:
a) ambos colocam em destaque o tema da loucura.   
b) apenas os versos de Drummond apresentam a ideia do esvaziamento do “eu”.   
c) os poemas se opõem, já que Drummond propõe uma poesia ligada à realidade.   
d) ambos retratam a angústia dos seres incompreendidos pelos seus companheiros.   
e) apenas em Ismália é possível identificar o desejo de um futuro melhor.   

GABARITO:
1- A              2- B                3- A               4- C              5- B                  6- E

7- E             8- C                 9- A             10- A             11- B               12- D

13- 
1) As rimas, os versos curtos (redondilhas maior), as assonâncias, as aliterações, as reticências e os paralelismos atribuem intensa musicalidade ao poema.

2) Os desejos de Ismália eram "subir ao céu" e "descer ao mar", ao seja, desejos de voar para alcançar as "luas". Isso pode representar o desejo de unir matéria e espírito.

3) a - Do ponto de vista racional, Ismália suicida-se.

    b - Do ponto de vista simbolista, a alma de Ismália transcendeu para a dimensão espiritual e metafísica da existência, ou seja, liberta-se do mundo concreto para integra-se com o cosmo.

14- E                    15- A                     16- A                     17- C

Análise do poema Ismália, de Alphonsus Guimaraens


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…

                                   (Alphonsus de Guimaraens)

Análise do poema:
O poema expressa a dualidade entre corpo e alma. Nele está revelada a imagem de todo homem preso ao desejo de unir matéria e espírito, mas frustrado pela consciência da distância intransponível que o separa de seu alvo.
Levada, sutil e delicadamente, por um desvario, Ismália se permite sonhar com o possível encontro de matéria e espírito. Mas, já que ele não é realizável em vida, então é à morte que Ismália se entrega. No entanto, essa entrega está banhada por uma singeleza única: semelhante a um anjo, sua alma sobe embalada por um cântico, enquanto seu corpo repousa na imensidão do oceano
No poema Ismália, entre duas imagens da lua (céu/mar), a personagem enlouquecida alça o voo de seu ´´sonho``, simetricamente, subindo ao céu e descendo ao mar.
O texto situa-se na parte de sua obra que se inclina a buscar algumas sugestões de forma e conteúdo na tradição poética medieval. Os versos são, a propósito, breves e cadenciados. O poeta faz uso da redondilha maior (versos de sete sílabas métricas); forte musicalidade rítmica através das rimas alternadas (abab), agudas (oxítonas) e toantes (apenas sonoras), e de repetições (estrutura paralelística como ´´Viu uma lua no céu / Viu outra lua no mar``).
Toda a simplicidade formal, no entanto, contrasta com a complexidade psíquica que explora: a loucura (o tema loucura, assim como o tema da morte, fazem parte da poesia Simbolista). Nele se narra uma história, a história da loucura de Ismália. Mas em favor da plena realização do texto como poesia surge a ideia de que para os loucos tudo é simples e praticável: até querer a lua. Ismália, então, obcecada pelo mais legítimo e puro dos desejos, parte em demanda de seu objetivo não ligando a mínima para as consequências daí provenientes. Aliás, morrer, para um certo tipo de pessoa, é mesmo alcançar o bem supremo: a um só tempo a lua do céu (com a alma) e a lua do mar (com o corpo).
As antíteses ´´céu`` e ´´mar``, em todas as estrofes do poema, querem marcar bem a oposição ´´alma`` e ´´corpo``, até o final em que a alma (abstrato), junta-se a ´´céu`` (abstrato); e corpo (concreto) junta-se a ´´mar`` (concreto). A linguagem é subjetiva (repare que as próprias reticências reproduzem uma certa imprecisão e sugestão), mas o suicídio de Ismália é uma conclusão objetiva a que chegamos. Isto é comum ao simbolismo: através de uma linguagem francamente subjetiva, chega-se a captar um fundo às vezes bastante objetivo.
O verbo no pretérito marca a passagem racional para o irracional. A partir daí, a fragmentação da alma (esquizofrenia, de squizo ´´dividido`` e frenos, ´´mente``) se encarrega da hesitação adoidada do desejo, que ora pende para a lua, ora para o mar.
Na 2.ª estrofe, percebemos um certo simbolismo bíblico: ´´Banhou-se... `` ( o batismo, cerimônia iniciática; a oração extrema), ´´... subir ao céu`` (ascensão da alma); ´´descer ao mar`` (voltar às origens aquáticas e minerais da vida). O verso ´´No sonho em que se perdeu`` nos informa que Ismália já não tinha mais noção racional da realidade. 
O Simbolismo, como reação ao materialismo científico, procura ser uma arte antirracional e antilógica; daí seu interesse por zonas ocultas da mente humana (o inconsciente e o subconsciente), não conhecidas nem controladas pela razão. Palavras como ´´Enlouqueceu`` e ´´sonhar``, se associam à pesquisa simbolista do subconsciente e à preferência pelo universo espiritual.
A 3.ª estrofe é a mais profunda do poema: o canto ´´desvairado`` em muitas tradições é a manifestação divina da loucura, onde se decide o destino de Ismália (´´perto do céu... longe do mar. ``). Este é o momento medial e apocalíptico do poema. As duas primeiras e as duas últimas estrofes são mais empíricas, mais descritivas. O verso ´´Na torre pôs-se a cantar`` sugere principalmente que Ismália, por considerar-se perto do céu, poderia já estar identificando-se como um anjo.
Ao se atribuir a Ismália a condição de louca, na 4.ª estrofe justificam-se seus desejos ao mesmo tempo absurdos e verdadeiros: o desejo de voar e de abraçar ´´as luas``. De acordo com a visão de mundo dos simbolistas, tal desejo é a libertação do mundo concreto e real; a transcendência; a integração com o cosmos. O corpo é a parte material do ser e , portanto, um empecilho para a transcendência. A razão aprisiona o homem à esfera da lógica e do real. Em contraposição, o subconsciente e o sonho, livres da razão, lançam o homem ao domínio do insólito e da liberdade. Os versos ´´E como um anjo pendeu / As asas para voar`` indicam que Ismália fez movimentos como a intenção de preparar-se para alcançar voo.
A 5.ª estrofe é marcada pela sublimação: o processo da loucura que culmina com a morte, entendida como encontro entre o corpo (matéria) e alma (espírito) como completude. Ao morrer (um suicídio) a alma de Ismália ´´sobe ao céu``, enquanto seu corpo ´´desce ao mar``, com o movimento das ´´asas que Deus lhe deu ``. Ou seja, ela reencontra a unidade perdida, a transcendência, a transfiguração para a dimensão espiritual e metafísica da existência. A alma subiu para atingir a lua verdadeira; o corpo desceu para a ilusão da lua, para o reflexo da lua ( a lua do mundo sensível). O ideal de Ismália foi atingido, afinal, de acordo com o conceito simbolista, por meio da morte Ismália transcende e integra-se ao cosmos.
Considerando que estas análises apenas sugerem possibilidades entre tantas leituras que se façam deste primoroso poema, a questão da intertextualidade entre este e outros textos também pode ser amplamente explorada, e então se tem início ao fantástico e infindável horizonte que se abre no universo literário e que nos permite imaginar, por exemplo, a inadjetivável aproximação da grandiosidade da criação de Alphonsus de Guimaraens com a fascinante obra do genial Fernando Pessoa

Simbolismo no Brasil

1. Contexto histórico e literário
Há um clima de grande desordem social, política e econômica nesse período de transição do século XIX para o século XX. As potências estão em guerra pelo poderio econômico dos mercados consumidores e dos fornecedores de matéria-prima, ao passo que no Brasil eclodiam as revoltas sociais:

·         Abolição da escravatura (1888);
·         Proclamação da República (1889);
·         Revolta da Armada (1893);
·         Guerra dos Canudos (1893-1897).

O Simbolismo teve início no Brasil em 1893, com a publicação de “Missal” e “Broquéis”, obras de autoria de Cruz e Sousa, considerado o maior representante do movimento no país, ao lado de Alphonsus de Guimaraens, o Simbolismo no Brasil não foi tão relevante quanto o europeu. Teve seu fim com a Semana de Arte Moderna, que foi o marco do início do Modernismo.

2. Alphonsus Henriques da Costa Guimaraens (1870 – 1921)
Nasceu em Ouro Preto em 1870 numa família de intelectuais e morreu em 1921. Seu pai era português e a mãe brasileira. É poeta requintado cuja produção foi marcada pela morte prematura de sua amada, Constância, musa inspiradora de poesias com fortes traços religiosos e musicalidade erudita. Utilizava poeticamente a forma latinizada de seu nome.
O amor, a morte e a religiosidade formam a tríade temática privilegiada por este autor, também possivelmente compreendida pelas suas experiências particulares. Alphonsus de Guimaraens acolhe esses temas em sua obra sob um misticismo evidente, que o faz ser reconhecido até hoje como um dos mais místicos (senão "o mais místico") dos poetas brasileiros. São intensas em sua obra as presenças constantes da morte da mulher amada, os tons fúnebres de cemitérios e enterros, a nostalgia de um medievalismo romântico, além do seu famoso marianismo (culto à Virgem Maria).
Mas há outros temas na obra de Alphonsus de Guimaraens: a solidão, por exemplo, agravada pela percepção da dualidade entre corpo e alma; o isolamento experimentado pelo homem ao entrar nas imensas catedrais (imagem do homem em contato com Deus); a loucura, como efeito da angústia para romper a distância entre o celestial e o terreno; e a desilusão, como se o belo e o perfeito tivessem sido subtraídos da condição humana.
Com apenas 18 anos, Alphonsus sofreu uma grave perda: alguns biógrafos dizem que a morte de sua noiva, Constança, teria exercido uma forte influência sobre seu trabalho. Seus poemas são em grande parte dedicados a ela e a esse amor sublimado, interrompido precocemente. Aos 27, formado em direito, casa-se; anos depois é nomeado juiz em Mariana, MG, de onde não mais sairia. Morre em 1921, por isso ficou conhecido como “O solitário de Mariana”.

Principais características de sua obra:
  • Misticismo: “O amor pela noiva às vésperas do casamento, e sua profunda religiosidade e devoção pela Virgem Maria só poderiam gerar um misticismo que chega ao exagero.” (José de Nicola)

·   Amor: o lirismo amoroso de Alphsonsus Guimaraens constitui uma espécie de biografia de seu drama íntimo. Na maioria das vezes espiritualizado o amor conduz a deificação da mulher que universalizada com inicial maiúscula se identifica com a Virgem Maria ou é tida como Santa, Anjo, ao invés de mulher-matéria, interessa-lhe a mulher espírito que despojada de sua carnalidade surge ao poeta como puro espírito participante do plano da transcendência cristã.

“Hão de chorar por ela os cinamomos
 Murchando as flores ao tombar do dia
 Dos laranjais hão de cair os pomos
 Lembrando-se daquela que os colhia.” 

·        Morte e decadentismo: Alphsonsus foi o grande poeta da ausência, da distância, do além. Temática fundamental da obra do escritor, a morte está relacionada à lembrança da amada e doce Constânça, desaparecida na flor da mocidade. Agregada à temática da morte está a atitude decadentista reconhecida através da visão de mundo concebido como palco de dores, cuja evolução só a morte pode interromper. O mundo é um caos onde tudo degenera e morre.

“Nada somos, sabeis, e que seremos
 Mais do que duas míseras ossadas?
 As loucas ilusões em que vivemos
 São estrelas que morrem desmaiadas.”

·     Religiosidade (constantemente associada a morte): o desaparecimento precoce da noiva associada ao clima místico das cidades barrocas induz o poeta à religiosidade. Trata-se de uma religiosidade emotiva, feita de preces e crenças simples.

“Entre brumas ao longe surge a aurora.
 O hialino orvalho aos poucos se evapora,
 Agoniza o arrebol.
 A catedral ebúrnea do meu sonho
 Aparece na paz do céu risonho
 Toda branca de sol.”

·  Tendência ao medievalismo (gosto pelo passado): são comuns em seus textos motivos e formas medievais, como cavaleiros, damas, castelos que remetem ao mundo sombrio e misterioso do período medieval. Tal qual um trovador, o poeta está a serviço da sua Senhora, a bem-amada como Virgem Maria. Em seus versos é fácil perceber a musicalidade das cantigas trovadorescas.

“Piedosa o olhar nunca baixou à terra.
 Fitava o céu, porque era santa ...
 Tinha o orgulho fidalgo de uma infanta

 Que entre os escudeiros e lacaios erra.

Simbolismo: características gerais


I. Origens e período: A estética simbolista surgiu oficialmente, no final do século XIX, em meio a um mundo cheio de indefinições e inquietações.  O precursor do Simbolismo é o francês Charles Baudelaire, com a publicação de “As Flores do Mal”, em 1857, porém, oficialmente, a publicação do Manifesto do Simbolismo, de Jean Moréas,  em 1886, na França, marca o início do Simbolismo, na Europa. Na época, o termo simbolismo foi usado em substituição ao termo decadentismo, que nomeava as tendências estéticas antipositivistas, antinaturalistas e anticientificistas, em outras palavras, o Simbolismo surgiu como uma reação  à objetividade do Realismo, Naturalismo e do Parnasianismo.
            Em Portugal, o Simbolismo teve como marco inicial a publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro, em 1890, durando até 1915, época do surgimento da geração Orpheu, que desencadeia a revolução modernista no país, em muitos aspectos baseada nas conquistas da nova estética.
Já no Brasil, Inicia-se oficialmente em 1893, com a publicação de Missal (prosa poética) e Broquéis, de Cruz e Souza, considerado o maior representante do movimento no país, ao lado de Alphonsus de Guimarães.

II. Contexto histórico: Nas duas últimas décadas do século XIX, a Europa enfrentou um período de crise, gerada pela segunda Revolução Industrial. Do sistema capitalista emergiu uma nova ordem econômica, que beneficiava apenas a elite, em prejuízo da maioria da população, constituída pela classe média e pelo proletariado. Principais fatos históricos:
·      O grande progresso científico e tecnológico não consegue esconder a série de crise econômica na Europa, gerada segunda Revolução Industrial, que vai culminar com a chamada Grande Depressão (intranquilidade quanto aos rumos da economia, que começava a estagnar depois de um grande progresso, provocando o fechamento de fábricas e à falência de banqueiros).
·      Em consequência, aparecem duas classes sociais: os capitalistas, que vivem do lucro e da exploração da classe operária e a classe média, que estava em crise.
·      A decadência econômica põe por terra as esperanças materialistas dos positivistas.
·      Surgimento dos partidos socialistas que pregam o fim do Capitalismo, atraindo para suas organizações as classes operárias, enfraquecidas depois da industrialização.
·      A Europa vivia em grande tensão: o fantasma da guerra estava no ar (1ª guerra mundial, em 1914 e Revolução Russa, em 1917).

III. Contexto literário:
·      O Simbolismo surge nesse contexto de insatisfação com os rumos da política, que percebendo a falência do racionalismo e do materialismo, retoma os valores até então adormecidos: o idealismo e o misticismo. O sonho, o inconsciente, a metafísica e a religiosidade renascem na procura de um mundo ideal, fugindo ao racionalismo dos realista-naturalistas.
·      A atitude do poeta, agora é subjetiva, assemelhando-se aos românticos, com uma diferença: enquanto os românticos estavam no nível apenas das emoções, os simbolistas levam a efeito um mergulho mais profundo, mais radical, principalmente no que diz respeito ao misticismo (disposição para crer no sobrenatural).
·      Nesse mergulho, chegam ao subconsciente e ao inconsciente e lá se deparam com sensações que a lógica não é capaz de explicar. É esse mundo confuso que os simbolistas procuram transformar em poesia.
·       Como se distanciaram das preocupações positivistas, os simbolistas eram chamados de nefelibatas, ou seja, pessoas que andam com a cabeça fora do real, aqueles que vivem “nas nuvens”.

IV. Características da poesia simbolista
·      Linguagem evocativa: exploram recursos sonoros e visuais, pois a linguagem precisa ser fundamentalmente sugestiva para alcançar seu verdadeiro poder de evocar sensações e lembranças, ou seja, para os simbolistas, a realidade deveria ser expressa de maneira vaga, nebulosa, imprecisa e ilógica.

            “Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer do poema, que é feito da felicidade em adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo, eis o sonho ... deve haver sempre enigma em poesia ...” (Mallarmé)
Ex: Vala comum de corpos que apodrecem,
       Esverdeada gangrena
       Cobrindo vastidões que fosforescem
       Sobre a esfera terrena” (Cruz e Sousa)

·      Subjetivismo profundo: desinteressado pela realidade objetiva, o simbolista volta-se para seu próprio “eu”, na busca da essência do ser humano, o inconsciente, o subconsciente e os estados de alma.
·      Expressividade sonora: “A música antes de qualquer coisa” era o postulado de Verlaine. Dotando o poema de expressividade sonora e valorizando o ritmo, a musicalidade, as aliterações, as assonâncias e os ecos, os simbolistas procuravam aproximar a poesia da música, afastando o poema de referências concretas, instaurando uma atmosfera vaga, indefinível e misteriosa. Ex:
“Vozes veladas, veludosas vozes,
  Volúpias dos violões, vozes veladas,
  Vagam nas velhas, vórtices velozes
  Dos ventos, vivas, vãs vulcanizadas.” (Cruz e Sousa)
·      Emprego abundante de sinestesia: relação que se estabelece entre diferentes sensações (cruzamento de sensações). Ex:
“Palpitando os mastros
  Ao som vermelho da canção de guerra”

  Como a doçura quente de um carinho..”

  E as vozes sobem claras, cantantes, luminosas.”
·      Conhecimento ilógico e intuitivo da realidade: para explorar o mundo visível, racional e objetivo, os simbolistas valorizam a intuição e os sentidos humanos (visão, tato, audição, etc.) como forma de percepção das essências, o lado obscuro das coisas que se esconde além da realidade visível.
·      Misticismo e espiritualismo: os simbolistas voltam-se para a fé, com um misticismo um tanto difuso, mas ligado à tradição cristã. A crença na existência de um mundo ideal produz como resultado um clima de fluidez e mistério. Considera o poeta como vidente de realidades transcendentais e a poesia como expressão de vidência mediúnica. No plano sintático-vocabular observam-se:
-Uso de vocábulos ligados ao místico e ao litúrgico: alma, infinito, desconhecido, essência, missal, breviário, hinos, salmos, ângelus, etc;
-O uso do conectivo “bíblico” e que tem essa denominação por ser bastante usado nos textos bíblicos;
-O emprego de iniciais maiúsculas no interior do verso, enfatizando o aspecto simbólico e alegórico dos vocábulos. Ex:
Como fantásticos signos
  Erram demônios malignos.

  Na brancura das ossadas
  Gemem as almas penadas.

  Lobisomens, feiticeiras
  Gargalham no luar das eiras.

  Os vultos dos enforcados

  Uivam nos ventos irados” (Cruz e Sousa)