terça-feira, 6 de maio de 2014

Simbolismo no Brasil

1. Contexto histórico e literário
Há um clima de grande desordem social, política e econômica nesse período de transição do século XIX para o século XX. As potências estão em guerra pelo poderio econômico dos mercados consumidores e dos fornecedores de matéria-prima, ao passo que no Brasil eclodiam as revoltas sociais:

·         Abolição da escravatura (1888);
·         Proclamação da República (1889);
·         Revolta da Armada (1893);
·         Guerra dos Canudos (1893-1897).

O Simbolismo teve início no Brasil em 1893, com a publicação de “Missal” e “Broquéis”, obras de autoria de Cruz e Sousa, considerado o maior representante do movimento no país, ao lado de Alphonsus de Guimaraens, o Simbolismo no Brasil não foi tão relevante quanto o europeu. Teve seu fim com a Semana de Arte Moderna, que foi o marco do início do Modernismo.

2. Alphonsus Henriques da Costa Guimaraens (1870 – 1921)
Nasceu em Ouro Preto em 1870 numa família de intelectuais e morreu em 1921. Seu pai era português e a mãe brasileira. É poeta requintado cuja produção foi marcada pela morte prematura de sua amada, Constância, musa inspiradora de poesias com fortes traços religiosos e musicalidade erudita. Utilizava poeticamente a forma latinizada de seu nome.
O amor, a morte e a religiosidade formam a tríade temática privilegiada por este autor, também possivelmente compreendida pelas suas experiências particulares. Alphonsus de Guimaraens acolhe esses temas em sua obra sob um misticismo evidente, que o faz ser reconhecido até hoje como um dos mais místicos (senão "o mais místico") dos poetas brasileiros. São intensas em sua obra as presenças constantes da morte da mulher amada, os tons fúnebres de cemitérios e enterros, a nostalgia de um medievalismo romântico, além do seu famoso marianismo (culto à Virgem Maria).
Mas há outros temas na obra de Alphonsus de Guimaraens: a solidão, por exemplo, agravada pela percepção da dualidade entre corpo e alma; o isolamento experimentado pelo homem ao entrar nas imensas catedrais (imagem do homem em contato com Deus); a loucura, como efeito da angústia para romper a distância entre o celestial e o terreno; e a desilusão, como se o belo e o perfeito tivessem sido subtraídos da condição humana.
Com apenas 18 anos, Alphonsus sofreu uma grave perda: alguns biógrafos dizem que a morte de sua noiva, Constança, teria exercido uma forte influência sobre seu trabalho. Seus poemas são em grande parte dedicados a ela e a esse amor sublimado, interrompido precocemente. Aos 27, formado em direito, casa-se; anos depois é nomeado juiz em Mariana, MG, de onde não mais sairia. Morre em 1921, por isso ficou conhecido como “O solitário de Mariana”.

Principais características de sua obra:
  • Misticismo: “O amor pela noiva às vésperas do casamento, e sua profunda religiosidade e devoção pela Virgem Maria só poderiam gerar um misticismo que chega ao exagero.” (José de Nicola)

·   Amor: o lirismo amoroso de Alphsonsus Guimaraens constitui uma espécie de biografia de seu drama íntimo. Na maioria das vezes espiritualizado o amor conduz a deificação da mulher que universalizada com inicial maiúscula se identifica com a Virgem Maria ou é tida como Santa, Anjo, ao invés de mulher-matéria, interessa-lhe a mulher espírito que despojada de sua carnalidade surge ao poeta como puro espírito participante do plano da transcendência cristã.

“Hão de chorar por ela os cinamomos
 Murchando as flores ao tombar do dia
 Dos laranjais hão de cair os pomos
 Lembrando-se daquela que os colhia.” 

·        Morte e decadentismo: Alphsonsus foi o grande poeta da ausência, da distância, do além. Temática fundamental da obra do escritor, a morte está relacionada à lembrança da amada e doce Constânça, desaparecida na flor da mocidade. Agregada à temática da morte está a atitude decadentista reconhecida através da visão de mundo concebido como palco de dores, cuja evolução só a morte pode interromper. O mundo é um caos onde tudo degenera e morre.

“Nada somos, sabeis, e que seremos
 Mais do que duas míseras ossadas?
 As loucas ilusões em que vivemos
 São estrelas que morrem desmaiadas.”

·     Religiosidade (constantemente associada a morte): o desaparecimento precoce da noiva associada ao clima místico das cidades barrocas induz o poeta à religiosidade. Trata-se de uma religiosidade emotiva, feita de preces e crenças simples.

“Entre brumas ao longe surge a aurora.
 O hialino orvalho aos poucos se evapora,
 Agoniza o arrebol.
 A catedral ebúrnea do meu sonho
 Aparece na paz do céu risonho
 Toda branca de sol.”

·  Tendência ao medievalismo (gosto pelo passado): são comuns em seus textos motivos e formas medievais, como cavaleiros, damas, castelos que remetem ao mundo sombrio e misterioso do período medieval. Tal qual um trovador, o poeta está a serviço da sua Senhora, a bem-amada como Virgem Maria. Em seus versos é fácil perceber a musicalidade das cantigas trovadorescas.

“Piedosa o olhar nunca baixou à terra.
 Fitava o céu, porque era santa ...
 Tinha o orgulho fidalgo de uma infanta

 Que entre os escudeiros e lacaios erra.

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