1.
Contexto histórico e literário
Há um clima de grande
desordem social, política e econômica nesse período de transição do século XIX
para o século XX. As potências estão em guerra pelo poderio econômico dos
mercados consumidores e dos fornecedores de matéria-prima, ao passo que no Brasil
eclodiam as revoltas sociais:
·
Abolição da escravatura (1888);
·
Proclamação da República (1889);
·
Revolta da Armada (1893);
·
Guerra dos Canudos (1893-1897).
O Simbolismo teve início
no Brasil em 1893, com a publicação de “Missal” e “Broquéis”, obras de autoria
de Cruz e Sousa, considerado o maior representante do movimento no país, ao lado
de Alphonsus de Guimaraens, o
Simbolismo no Brasil não foi tão relevante quanto o europeu. Teve seu fim com a
Semana de Arte Moderna, que foi o marco do início do Modernismo.
2. Alphonsus
Henriques da Costa Guimaraens (1870 – 1921)
Nasceu em Ouro Preto em 1870
numa família de intelectuais e morreu em 1921. Seu pai era português e a mãe
brasileira. É poeta requintado cuja produção foi marcada pela morte prematura
de sua amada, Constância, musa inspiradora de poesias com fortes traços
religiosos e musicalidade erudita. Utilizava poeticamente a forma latinizada de
seu nome.
O amor, a morte e a religiosidade formam a tríade temática
privilegiada por este autor, também possivelmente compreendida pelas suas
experiências particulares. Alphonsus de Guimaraens acolhe esses temas em sua
obra sob um misticismo evidente, que o faz ser reconhecido até hoje como um dos
mais místicos (senão "o mais místico") dos poetas brasileiros. São
intensas em sua obra as presenças constantes da morte da mulher amada, os tons
fúnebres de cemitérios e enterros, a nostalgia de um medievalismo romântico,
além do seu famoso marianismo (culto à Virgem Maria).
Mas há outros temas na
obra de Alphonsus de Guimaraens: a solidão, por exemplo, agravada pela
percepção da dualidade entre corpo e alma; o isolamento experimentado pelo
homem ao entrar nas imensas catedrais (imagem do homem em contato com Deus); a
loucura, como efeito da angústia para romper a distância entre o celestial e o
terreno; e a desilusão, como se o belo e o perfeito tivessem sido subtraídos da
condição humana.
Com apenas 18 anos,
Alphonsus sofreu uma grave perda: alguns biógrafos dizem que a morte de sua
noiva, Constança, teria exercido uma forte influência sobre seu trabalho. Seus
poemas são em grande parte dedicados a ela e a esse amor sublimado,
interrompido precocemente. Aos 27, formado em direito, casa-se; anos depois é
nomeado juiz em Mariana, MG, de onde não mais sairia. Morre em 1921, por isso
ficou conhecido como “O solitário de
Mariana”.
Principais características de sua obra:
- Misticismo: “O amor pela noiva às vésperas do casamento, e sua profunda religiosidade e devoção pela Virgem Maria só poderiam gerar um misticismo que chega ao exagero.” (José de Nicola)
· Amor: o lirismo amoroso de
Alphsonsus Guimaraens constitui uma espécie de biografia de seu drama íntimo.
Na maioria das vezes espiritualizado o amor conduz a deificação da mulher que
universalizada com inicial maiúscula se identifica com a Virgem Maria ou é tida
como Santa, Anjo, ao invés de mulher-matéria, interessa-lhe a mulher espírito
que despojada de sua carnalidade surge ao poeta como puro espírito participante
do plano da transcendência cristã.
“Hão de chorar por ela
os cinamomos
Murchando as flores ao tombar do dia
Dos laranjais hão de cair os pomos
Lembrando-se daquela que os colhia.”
· Morte e decadentismo: Alphsonsus foi o grande
poeta da ausência, da distância, do além. Temática fundamental da obra do
escritor, a morte está relacionada à lembrança da amada e doce Constânça,
desaparecida na flor da mocidade. Agregada à temática da morte está a atitude
decadentista reconhecida através da visão de mundo concebido como palco de
dores, cuja evolução só a morte pode interromper. O mundo é um caos onde tudo
degenera e morre.
“Nada somos, sabeis, e
que seremos
Mais do que duas míseras ossadas?
As loucas ilusões em que vivemos
São estrelas que morrem desmaiadas.”
· Religiosidade (constantemente
associada a morte): o desaparecimento precoce da noiva associada ao clima
místico das cidades barrocas induz o poeta à religiosidade. Trata-se de uma
religiosidade emotiva, feita de preces e crenças simples.
“Entre brumas ao longe
surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.”
· Tendência ao
medievalismo (gosto pelo passado): são comuns em seus textos motivos e
formas medievais, como cavaleiros, damas, castelos que remetem ao mundo sombrio
e misterioso do período medieval. Tal qual um trovador, o poeta está a serviço
da sua Senhora, a bem-amada como Virgem Maria. Em seus versos é fácil perceber
a musicalidade das cantigas trovadorescas.
“Piedosa o olhar nunca
baixou à terra.
Fitava o céu, porque era santa ...
Tinha o orgulho fidalgo de uma infanta
Que entre os escudeiros e lacaios erra.
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