I. Origens e período: A estética simbolista surgiu oficialmente, no final do
século XIX, em meio a um mundo cheio de indefinições e inquietações. O precursor do Simbolismo é o francês Charles
Baudelaire, com a publicação de “As
Flores do Mal”, em 1857, porém, oficialmente, a
publicação do Manifesto do Simbolismo, de Jean Moréas, em 1886, na França, marca o início do Simbolismo, na Europa. Na época, o termo simbolismo
foi usado em substituição ao termo decadentismo, que nomeava as
tendências estéticas antipositivistas, antinaturalistas e anticientificistas,
em outras palavras, o Simbolismo surgiu como uma reação à objetividade do Realismo, Naturalismo e do
Parnasianismo.
Em Portugal, o
Simbolismo teve como marco inicial a publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro, em 1890, durando até 1915, época do
surgimento da geração Orpheu, que desencadeia a revolução modernista no país,
em muitos aspectos baseada nas conquistas da nova estética.
Já no Brasil, Inicia-se oficialmente em 1893, com a
publicação de Missal (prosa poética)
e Broquéis, de Cruz e Souza,
considerado o maior representante do movimento no país, ao lado de Alphonsus de
Guimarães.
II. Contexto histórico: Nas duas
últimas décadas do século XIX, a Europa enfrentou um período de crise, gerada
pela segunda Revolução Industrial. Do sistema capitalista emergiu uma nova
ordem econômica, que beneficiava apenas a elite, em prejuízo da maioria da
população, constituída pela classe média e pelo proletariado. Principais fatos
históricos:
· O grande progresso científico e tecnológico não
consegue esconder a série de crise econômica na Europa, gerada segunda
Revolução Industrial, que vai culminar com a chamada Grande Depressão (intranquilidade
quanto aos rumos da economia, que começava a estagnar depois de um grande
progresso, provocando o fechamento de fábricas e à falência de banqueiros).
· Em consequência, aparecem duas classes sociais: os
capitalistas, que vivem do lucro e da exploração da classe operária e a classe
média, que estava em crise.
· A decadência econômica põe por terra as esperanças
materialistas dos positivistas.
· Surgimento dos partidos socialistas que pregam o fim
do Capitalismo, atraindo para suas organizações as classes operárias,
enfraquecidas depois da industrialização.
· A Europa vivia em grande tensão: o fantasma da guerra
estava no ar (1ª guerra mundial, em 1914 e Revolução Russa, em 1917).
III. Contexto literário:
· O Simbolismo surge nesse contexto de insatisfação com
os rumos da política, que percebendo a falência do racionalismo e do
materialismo, retoma os valores até então adormecidos: o idealismo e o
misticismo. O sonho, o inconsciente, a metafísica e a religiosidade renascem na
procura de um mundo ideal, fugindo ao racionalismo dos realista-naturalistas.
· A atitude do poeta, agora é subjetiva, assemelhando-se
aos românticos, com uma diferença: enquanto os românticos estavam no nível
apenas das emoções, os simbolistas levam a efeito um mergulho mais profundo,
mais radical, principalmente no que diz respeito ao misticismo (disposição para crer no sobrenatural).
· Nesse mergulho, chegam ao subconsciente e ao
inconsciente e lá se deparam com sensações que a lógica não é capaz de
explicar. É esse mundo confuso que os simbolistas procuram transformar em
poesia.
· Como se
distanciaram das preocupações positivistas, os simbolistas eram chamados de nefelibatas, ou seja, pessoas que andam com a cabeça fora do real,
aqueles que vivem “nas nuvens”.
IV. Características da poesia
simbolista
·
Linguagem evocativa: exploram recursos sonoros e visuais, pois a linguagem precisa ser
fundamentalmente sugestiva para alcançar seu verdadeiro poder de evocar
sensações e lembranças, ou seja, para os simbolistas, a realidade deveria ser
expressa de maneira vaga, nebulosa, imprecisa e ilógica.
“Nomear um objeto é suprimir três quartos
do prazer do poema, que é feito da felicidade em adivinhar pouco a pouco;
sugeri-lo, eis o sonho ... deve haver sempre enigma em poesia ...” (Mallarmé)
Ex: Vala comum de corpos que
apodrecem,
Esverdeada gangrena
Cobrindo vastidões que fosforescem
Sobre a esfera terrena” (Cruz e Sousa)
· Subjetivismo profundo: desinteressado pela realidade objetiva, o
simbolista volta-se para seu próprio “eu”, na busca da essência do ser humano,
o inconsciente, o subconsciente e os estados de alma.
· Expressividade
sonora: “A música antes de qualquer
coisa” era o postulado de Verlaine. Dotando o poema de expressividade sonora e
valorizando o ritmo, a musicalidade, as aliterações, as assonâncias e os ecos,
os simbolistas procuravam aproximar a poesia da música, afastando o poema de referências
concretas, instaurando uma atmosfera vaga, indefinível e misteriosa. Ex:
“Vozes veladas, veludosas
vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nas velhas, vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs vulcanizadas.” (Cruz
e Sousa)
· Emprego
abundante de sinestesia: relação que
se estabelece entre diferentes sensações (cruzamento de sensações). Ex:
“Palpitando os mastros
Ao som vermelho da canção de guerra”
Como a doçura quente de um carinho..”
E as vozes sobem claras, cantantes, luminosas.”
· Conhecimento ilógico e intuitivo da realidade: para explorar o mundo visível, racional e objetivo, os simbolistas
valorizam a intuição e os sentidos humanos (visão, tato, audição, etc.) como
forma de percepção das essências, o lado obscuro das coisas que se esconde além
da realidade visível.
· Misticismo e espiritualismo: os
simbolistas voltam-se para a fé, com um misticismo um tanto difuso, mas ligado
à tradição cristã. A crença na existência de um mundo ideal produz como
resultado um clima de fluidez e mistério. Considera o poeta como vidente de
realidades transcendentais e a poesia como expressão de vidência mediúnica. No
plano sintático-vocabular observam-se:
-Uso de vocábulos ligados ao místico e ao litúrgico: alma, infinito, desconhecido, essência,
missal, breviário, hinos, salmos, ângelus, etc;
-O uso do conectivo “bíblico” e que tem essa denominação por ser bastante usado nos textos
bíblicos;
-O emprego de iniciais maiúsculas no interior do verso,
enfatizando o aspecto simbólico e alegórico dos vocábulos. Ex:
“Como fantásticos signos
Erram demônios malignos.
Na
brancura das ossadas
Gemem as almas penadas.
Lobisomens, feiticeiras
Gargalham no luar das eiras.
Os vultos dos enforcados
Uivam nos ventos irados” (Cruz e Sousa)
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