sábado, 23 de janeiro de 2021

Carolina, o grande amor e a influenciadora da obra de Machado de Assis

 Queridos, hoje iremos falar de uma pessoa que não só foi o grande amor de Machado de Assis, mas foi também foi sua grande ajudadora e, por que não dizer, sua grande influenciadora. 

Machado de Assis casou em 12 de novembro de 1869 com Carolina Augusta Xavier Novais, irmã de seu  grande amigo poeta Faustino Xavier, ele com 27 anos e ela com 32.  A família da noiva não via com bons olhos o casamento dos dois, pois além de Machado de Assis ainda não ter reconhecimento social,  era mulato e epiléptico, mas o amor venceu, casaram e os dois viveram juntos por 35 anos. Eles eram apaixonadíssimos um pelo outro - conforme mostram as correspondências do casal. 
Carolina era uma mulher muito resolvida para seu tempo: inteligente, desembaraçada e determinada. Teve um papel muito importante na vida e na carreira de Machado. Ela foi determinante para que ele tivesse estabilidade emocional e também transitasse entre intelectuais. De acordo com os biógrafos, Carolina era uma mulher muito culta e apresentou  a Machado de Assis livros da Literatura Portuguesa e da Literatura Inglesa e outros clássicos da literatura universal, foi assim que redefiniu o estilo dele para a maturidade. 
Serviu de enfermeira, secretária e redatora, pois, além de revisar e "passar a limpo" os textos do escritor, também opinava sobre seus textos. Segundo a biógrafa Miguel- Pereira, “Machado, como todo autodidata, tinha enormes lacunas de cultura, das quais muitas parecem haver sido preenchidas graças às indicações de Carolina”. A biógrafa diz ainda que a companheira de Machado não apenas influenciou o escritor com o seu repertório cultural, mas também teria sido fundamental no desenvolvimento da escrita dele, corrigindo deslizes ortográficos, fazendo apontamento e modificações em seu textos.
Em uma das cartas escrita a sua amada Carolina, Machado declarou que ela não era como as mulheres vulgares que conhecia, ao contrário, seu espírito e coração eram prendas raras.
O casal não teve filhos, pois Carolina não conseguiu engravidar, por isso os dois adotaram uma cadelinha, batizando-a com o nome de Graziela. Pasmem, tratavam-na como filha! Não foi à toa que Brás Cubas, dos principais personagens de Machado de Assis afirmou "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria."
O casamento de Machado de Assis durou até a morte da esposa em 20 de outubro de 1904. Ela morre aos 70 anos de idade! Ele temia muito que ela morresse antes dele, pois não queria sofrer a perda da esposa. Em carta enviada ao historiador Joaquim Nabuco dois meses após a perda, temos um fragmento dos sentimentos de Machado por Carolina. “Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfado­nha, antes me é grata, porque é um modo de viver com ela, ouvi-la, assistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada. Éramos velhos, e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor”, escreveu ele ao amigo.  
Depois de sua morte, a vida perde o encanto para Machado de Assis e ele entra em profunda depressão, raramente saia de casa, encontrava consolo em sua solidão com sua cadelinha, sua única companhia.
Machado de Assis, saudoso de sua esposa, escreve um de seus melhores sonetos em sua homenagem:

Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração de companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro...

Trago-te flores - restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados;

que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos.

Morte de Machado de Assis

Já idoso, doente e tomado pela depressão, Machado de Assis falece no dia 29 de setembro de 1908, aos 69 anos de idade, em sua casa. Nem em em seus últimos dias de vida - já com a vista fraca, uma infecção intestinal e uma úlcera na língua - aceitou a presença de um padre para tomar sua confissão, alegando não querer ser hipócrita. No geral, teve uma morte tranquila, cercado do carinho dos amigos mais íntimos: Mário de Alencar, José Veríssimo, Euclides da Cunha, Coelho Neto e outros.
Em um delicado gesto, pediu que, assim que morresse, fosse queimado o móvel em que guardava relíquias de amor, como as cartas trocadas com Carolina quando eles ainda eram namorados, pedaços do véu de noiva, a grinalda e os sapatinhos de cetim usados por ela em seu casamento. Em seu último romance foi Memorial de Aires, Machado foi categórico ao escrever "O livro é derradeiro; já não estou em idade de folias literárias nem outras".
Deixou todos os seus bens a menina Laura, filha de sua sobrinha Sara Gomes da Costa e de seu esposo major Bonifácio Gomes da Costa, seu testamenteiro.
Sua morte foi amplamente lamentada por diversos artistas e intelectuais brasileiros, dentre os quais o jurista Rui Barbosa, que discursou no velório do autor, representando a Academia Brasileira de Letras. Seu corpo foi levado em uma carreta do Arsenal de Guerra, só destinada às grandes personalidades. O cortejo fúnebre saiu da Academia para o cemitério de São João Batista, onde foi sepultado ao lado de Carolina, cumprindo aquilo que havia prometido quatro anos antes à mulher no soneto de despedida (À Carolina). Apesar de todo o seu pessimismo, pouco antes de morrer suas últimas palavras foram: "A vida é boa". 
Em 21 de abril de 1999, os restos mortais do casal foram transladados para o o Mausoléu da Academia.

Leia mais em: https://claudia.abril.com.br/cultura/carolina-a-mulher-que-mudou-o-rumo-da-obra-de-machado-de-assis/

Continua no próximo post.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Machado de Assis: O Cavaleiro da Ordem das Rosas

 Como vimos no post anterior, Machado de Assis aos 20 anos de idade já frequentava os círculos literários, jornalísticos  e políticos da capital do Império, o Rio de Janeiro.


Em 1860, Machado é convidado por Quintino Bocaiúva para trabalhar na redação do Diário do Rio de Janeiro. Nesse jornal, exerceu a função de repórter e cobria as atividades do Senado do Império. Atuou também como crítico teatral na Revista dos Teatros, além de escrever para a Semana Ilustrada, com o pseudônimo de Doutor Semana. 

Machado de Assis, nessa época, frequentava os saraus literários onde recitava seus poemas e ouvia músicas. Pelo visto, além de trabalhar muito, gostava de se divertir também! 

Em 1862, foi censor teatral do governo, não recebia nenhuma remuneração nesse cargo, no entanto tinha acesso livre aos teatros e, assim teve mais fontes de inspiração e maior contato com o meio cultural, o que foi indispensável para a criação de suas futuras obras.

Nessa mesma época, colaborou no periódico O Futuro, dirigido por Faustino Xavier de Novais, irmão de sua futura esposa, uma portuguesa culta que se chamava Carolina Augusta Xavier de Novais.  

O seu primeiro livro publicado em 1864, Crisálidas, foi em homenagem a seus pais Maria Leopoldina e Francisco José. Cinco anos mais tarde, seu amigo poeta Faustino Xavier morre e três meses após casa-se com Carolina, com quem viveu por mais de três décadas.


Não podemos deixar passar que nosso Machado de Assis recebeu do Imperador, em 1867, o grau de Cavaleiro da Ordem das Rosas por serviços prestados às letras nacionais. 

OBS: A Imperial Ordem das Rosas destinava-se a premiar civis e militares, nacionais ou estrangeiros, que se destacassem por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado.

Em 1872, seu primeiro romance, Ressurreição, é publicado e é bem aceito pela público e pela crítica da época. Logo em seguida, torna-se burocrata, é nomeado primeiro oficial da Secretaria da Agricultura e três anos depois é promovido pela princesa Isabel à chefia da seção. A partir de então, passa a ser melhor remunerado e ganhar direitos autorais por seus livros. Então muda-se com sua esposa para uma área mais luxuosa, no bairro do Catete. Assim garantiu sua subsistência até o fim de seus dias.

No ano seguinte, Machado de Assis recebe convite de seu amigo Quintino Bocaiúva para escrever para o jornal O Globo, no qual começa a publicar seus contos, crônicas, romances e poesias, além de escrever também para outras revistas: O Cruzeiro, A Estação, Revista Brasileira, Gazeta de Notícias.

Em 1881, depois de regressar de um retiro para cuidar de sua saúde, tem seu primeiro romance publicado - Memórias Póstumas de Brás Cubas, obra revolucionária e fora dos padrões convencionais da época. Esse romance, ao lado de O Mulato, de Aluízio e Azevedo, marca o início do Realismo na Literatura  brasileira.

Em 28 de janeiro de 1897, Machado de Assis, com a ajuda de seus amigos intelectuais da época, entre eles o paraense José Veríssimo, fundou a Academia Brasileira de Letras (ABL). Nomeado para a cadeira nº 23 e eleito o primeiro presidente  da instituição, cargo que ocupou até sua morte.

Machado de Assis também é conhecido como o Bruxo do Cosme Velho, provavelmente porque o escritor residiu por muitos anos com sua Carolina na Rua Cosme do Velho, nº 18, no Rio de Janeiro (residência mais famosa do casal, onde viveram até a morte) e neste endereço há uma lenda. por conta de um episódio em que Machado de Assis queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança, certa vez, o viu e gritou "Olha o Bruxo do Cosme Velho!". Essa lenda acabou se popularizando e fez com que o poeta Carlos Drummond de Andrade escrevesse A um bruxo, com amor", uma homenagem a vida e a obra de Machado de Assis.

Continua no próximo post.

Texto adaptado da Revista Discutindo a Literatura Ano 1 - nº 1

* https://s.ebiografia.com/img/ma/ch/machado_de_assis_20_anos_2_c.jpg

** https://collectgram.com/blog/content/images/2020/02/imperial-ordem-da-rosa-oficial-collectgram-V2-OT.jpg

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Machado e Assis: vida e obra do maior nome de toda a Literatura brasileira

 Olá, meus queridos, estou de volta aqui em nosso espaço de interação. A partir de hoje estarei postando alguns textos sobre a vida e a obra de um dos mais ilustres dos escritores brasileiros: o nosso querido Machado de Assis ou Machadinho, como era chamado na infância. Espero que vocês curtam, porque eu amo demais as obras desse escritor.

Primeiros Passos

Ícone da Literatura do século 19, Machado de Assis tem sido homenageado por suas obras que têm encantado, não só os amantes da Literatura brasileira, mas também da Literatura internacional. 
Além de ser um dos fundadores da Academia Brasileira  de Letras, Machado de Assis foi também poeta, contista, cronista, teatrólogo, romancista, jornalista. Gente, ele conseguiu transitar por vários gêneros literários! Publicou mais de 200 contos, 10 romances e demais publicações de diversos gêneros, como folhetim, peças teatrais, entre outros. Poucos conseguiram essa proeza.
O autor presenciou acontecimentos históricos, como a Abolição da Escravatura e a passagem do Brasil Império para Brasil República.
Seu nome completo: Joaquim Maria de Assis. Nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro.
Seu pai: Francisco José de Assis, um pintor de paredes, descendente de africanos alforriados.
Sua mãe: Leopoldina de Assis, uma imigrante portuguesa da ilha de São Miguel.
Mulato. Pobre. Autodidata. Não frequentou escola regular, mas foi referência ímpar entre os intelectuais da época no Brasil.
Teve uma infância muito sofrida, mas nem por isso se acomodou. Começou a trabalhar deste muito cedo para ajudar seus pais, entretanto seu maior sofrimento ocorreu quando sua irmã caçula morreu vítima de de sarampo, durante uma epidemia que ocorreu no Rio de Janeiro. Cinco anos depois, sua mãe morre enfraquecida pela tuberculose, quando Machado de Assis tinha apenas 10 anos de idade.
Além disso, sua saúde era muito frágil; era epilético e gago. Após a morte de sua mãe, seu pai se casa com Maria Inês. Mas, em 1851 ele morre e Machado de Assis começa a vender doces feitos por sua madrasta, que era cozinheira de uma escola. Foi dessa forma que ele teve contato com professores e alunos e foi incentivado por sua madrasta a se dedicar aos estudos, mesmo sem frequentar regularmente à escola. Também, por intermédio desse trabalho, Machado aprende o idioma francês com uma senhora francesa. 
Anos depois, nosso futuro escritor, começou a trabalhar como tradutor. O primeiro romance traduzido por ele foi Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, logo em seguida, vieram outros livros de autores franceses. O aprendizado do idioma francês foi só o começo de uma brilhante carreira na área das letras. Na sequência, logo aprende inglês e alemão, sempre como autodidata. 
Teve aulas de conhecimentos gerais e Latim com o padre Antônio Sarmento, quando foi contratado como sacristão. 
Nos intervalos do trabalho, Machado ia admirar as vitrines das livrarias e em um desses momentos foi convidado a entrar para conhecer a livraria e a tipografia, quando para sua alegria, recebe a oferta de ser aprendiz de tipógrafo. Na época, essa livraria estava à procura de novos talentos e nosso pequeno prodígio não perdeu a oportunidade de publicar seu primeiro trabalho literário - o poema Ela - veiculado  no jornal Marmota Fluminense, em 12 de janeiro de 1855. Isso possibilitou a Machado de Assis contribuir em outros jornais como cronista, contista, poeta e crítico literário.
Trabalhou como tipógrafo na Imprensa Oficial por 40 anos. Aqui conheceu o escritor Manuel Antônio de Almeida, Gonçalves Dias e José de Alencar, entre outros autores da época e começou a dar passos mais largos dentro da Literatura Brasileira. 

Continua no próximo post.


*https://www.academia.org.br/sites/default/files/academicos/fotografias/machado-de-assis.jpg