Queridos, hoje iremos falar de uma pessoa que não só foi o grande amor de Machado de Assis, mas foi também foi sua grande ajudadora e, por que não dizer, sua grande influenciadora.
Machado de Assis casou em 12 de novembro de 1869 com Carolina Augusta Xavier Novais, irmã de seu grande amigo poeta Faustino Xavier, ele com 27 anos e ela com 32. A família da noiva não via com bons olhos o casamento dos dois, pois além de Machado de Assis ainda não ter reconhecimento social, era mulato e epiléptico, mas o amor venceu, casaram e os dois viveram juntos por 35 anos. Eles eram apaixonadíssimos um pelo outro - conforme mostram as correspondências do casal.
Carolina era uma mulher muito resolvida para seu tempo: inteligente, desembaraçada e determinada. Teve um papel muito importante na vida e na carreira de Machado. Ela foi determinante para que ele tivesse estabilidade emocional e também transitasse entre intelectuais. De acordo com os biógrafos, Carolina era uma mulher muito culta e apresentou a Machado de Assis livros da Literatura Portuguesa e da Literatura Inglesa e outros clássicos da literatura universal, foi assim que redefiniu o estilo dele para a maturidade.
Serviu de enfermeira, secretária e redatora, pois, além de revisar e "passar a limpo" os textos do escritor, também opinava sobre seus textos. Segundo a biógrafa Miguel- Pereira, “Machado, como todo autodidata, tinha enormes lacunas de cultura, das quais muitas parecem haver sido preenchidas graças às indicações de Carolina”. A biógrafa diz ainda que a companheira de Machado não apenas influenciou o escritor com o seu repertório cultural, mas também teria sido fundamental no desenvolvimento da escrita dele, corrigindo deslizes ortográficos, fazendo apontamento e modificações em seu textos.
Em uma das cartas escrita a sua amada Carolina, Machado declarou que ela não era como as mulheres vulgares que conhecia, ao contrário, seu espírito e coração eram prendas raras.
O casal não teve filhos, pois Carolina não conseguiu engravidar, por isso os dois adotaram uma cadelinha, batizando-a com o nome de Graziela. Pasmem, tratavam-na como filha! Não foi à toa que Brás Cubas, dos principais personagens de Machado de Assis afirmou "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria."
O casamento de Machado de Assis durou até a morte da esposa em 20 de outubro de 1904. Ela morre aos 70 anos de idade! Ele temia muito que ela morresse antes dele, pois não queria sofrer a perda da esposa. Em carta enviada ao historiador Joaquim Nabuco dois meses após a perda, temos um fragmento dos sentimentos de Machado por Carolina. “Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfadonha, antes me é grata, porque é um modo de viver com ela, ouvi-la, assistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada. Éramos velhos, e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor”, escreveu ele ao amigo.
Depois de sua morte, a vida perde o encanto para Machado de Assis e ele entra em profunda depressão, raramente saia de casa, encontrava consolo em sua solidão com sua cadelinha, sua única companhia.
Machado de Assis, saudoso de sua esposa, escreve um de seus melhores sonetos em sua homenagem:
Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração de companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro...
Trago-te flores - restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados;
que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos.
Morte de Machado de Assis
Já idoso, doente e tomado pela depressão, Machado de Assis falece no dia 29 de setembro de 1908, aos 69 anos de idade, em sua casa. Nem em em seus últimos dias de vida - já com a vista fraca, uma infecção intestinal e uma úlcera na língua - aceitou a presença de um padre para tomar sua confissão, alegando não querer ser hipócrita. No geral, teve uma morte tranquila, cercado do carinho dos amigos mais íntimos: Mário de Alencar, José Veríssimo, Euclides da Cunha, Coelho Neto e outros.
Em um delicado gesto, pediu que, assim que morresse, fosse queimado o móvel em que guardava relíquias de amor, como as cartas trocadas com Carolina quando eles ainda eram namorados, pedaços do véu de noiva, a grinalda e os sapatinhos de cetim usados por ela em seu casamento. Em seu último romance foi Memorial de Aires, Machado foi categórico ao escrever "O livro é derradeiro; já não estou em idade de folias literárias nem outras".
Deixou todos os seus bens a menina Laura, filha de sua sobrinha Sara Gomes da Costa e de seu esposo major Bonifácio Gomes da Costa, seu testamenteiro.
Sua morte foi amplamente lamentada por diversos artistas e intelectuais brasileiros, dentre os quais o jurista Rui Barbosa, que discursou no velório do autor, representando a Academia Brasileira de Letras. Seu corpo foi levado em uma carreta do Arsenal de Guerra, só destinada às grandes personalidades. O cortejo fúnebre saiu da Academia para o cemitério de São João Batista, onde foi sepultado ao lado de Carolina, cumprindo aquilo que havia prometido quatro anos antes à mulher no soneto de despedida (À Carolina). Apesar de todo o seu pessimismo, pouco antes de morrer suas últimas palavras foram: "A vida é boa".
Em 21 de abril de 1999, os restos mortais do casal foram transladados para o o Mausoléu da Academia.
Leia mais em: https://claudia.abril.com.br/cultura/carolina-a-mulher-que-mudou-o-rumo-da-obra-de-machado-de-assis/
Continua no próximo post.
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