sexta-feira, 5 de março de 2021

Que tal ler Machado de Assis em quadrinhos?



Que tal ler Machado de Assis em quadrinhos?  
Apesar de muitos ainda insistirem com o preconceito contra esse gênero, a verdade é que os quadrinhos são uma excelente porta de entrada para o universo machadiano, já que para os iniciantes no mundo da leitura, os textos de Machado podem apresentar uma certa dificuldade.

É inegável que os quadrinhos motivam e incentivam adolescentes e adultos a iniciarem suas viagens literárias e, assim vem contribuindo para o aumento da leitura dos clássicos literários, porém está faltando divulgação e incentivo.

Machado de Assis não poderia ficar de fora dessa nova roupagem literária. Em seu artigo "Heranças Machadianas", na Revista Discutindo Literatura, edição especial, Júlio Rasek, diz:

"No teatro, na música, nas histórias em quadrinhos ou no cinema, o legado de Machado de Assis ganhou novas versões, pois a herança deixada por ele vai muito além dos textos que ele produziu". Para ele talvez o maior  legado de Machado seja ter criado um universo ímpar, que hoje impressiona ao ultrapassar com tanto vigor e atualidade as fronteiras conhecidas como Literatura. Isso é notado, por exemplo, na versatilidade de suas histórias e na humanidade trágica e cômica de seus personagens, prontos a vestirem uma roupagem moderna. 

Não importa o segmento artístico, a estética criada pelo imortal literato orbita em um espaço completamente inexplorado e repleto de possibilidades. Não é por acaso que, nos últimos anos, a fantasia machadiana vem sendo recontada de maneira totalmente nova. É o caso das histórias em quadrinhos - as HQs -, adaptação da obra de Machado de Assis provavelmente impensada pelo autor, até porque, assim como o cinema e a televisão, tais meios não faziam parte da sua realidade."


Portanto, ler Machado de Assis em quadrinhos abre um leque de possibilidades de leitura e melhor aina, abrange um público leitor bem maior. 

Já temos nas livrarias várias obras machadianas adaptadas para os quadrinhos, entre elas temos: O Alienista, Conto de escola, Uns Braços, Causa Secreta, O enfermeiro, A Cartomante, om Casmurro, Memórias Póstumas e Brás Cubas e Quincas Borbas.

Então vamos aproveitar e começar a viajar nesse universo maravilhoso de Machado de Assis, abra o link abaixo e comece a explorar essa nova roupagem de Machado:

https://issuu.com/editorapeiropolis/docs/conto_de_escola/2








Características da obra Machadiana (2)


Machado de Assis busca inspiração nas ações rotineiras do homem. Penetrando na consciência das personagens para sondar-lhes o funcionamento. Machado mostra-nos de maneira impiedosa e aguda, a vaidade, a futilidade, a hipocrisia, a ambição, a inveja e a inclinação ao adultério através de suas personagens. Como o escritor capta sempre os impulsos contraditórios existentes em qualquer ser humano, torna-se difícil classificar suas personagens em boas ou más, além disso, vasculhando a burguesia da época que vivia de acordo com o convencionalismo, Machado desmascara o jogo das relações sociais, enfatizando o contraste entre a essência e a aparência. O sucesso financeiro é quase o objetivo da vida dessas personagens.

Características:

1 - Quanto à visão de mundo:

1.1- Pessimismo: revela uma visão trágica e amarga da existência humana. Esse pessimismo é uma constatação de que o homem se deforma por causa de um sistema social que o leva a torna-se hipócrita para ser aceito pela opinião pública.

Ex: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

1.2- Humor: é uma espécie de válvula de escape diante da constatação da miserável condição humana. Esse humor, ás vezes irreverente, pode transformar-se em ironia e tem função crítica, pois leva o leitor a refletir sobre a condição humana.

Ex: " Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos."  "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

1.3- Denúncia da hipocrisia e do egoísmo: no universo machadiano, os bons sentimentos escondem sempre outra face, a do egoísmo e da dissimulação.

Ex: "Quem não sabe que o pé de cada bandeira pública, ostensiva, há muitas vezes outras bandeiras modestamente particulares que se hasteiam e flutuam à sombra daquela, e não raras vezes lhe sobrevivem?" (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

1.4Visão da natureza como mãe e inimiga: a natureza - considerada aqui como todas as forças que estabelecem e conservam a ordem do universo - é ao mesmo tempo mãe (vida) e inimiga (morte) do homem. Mãe porque criou o ser humano; inimiga, porque mantém-se impassível diante do sofrimento, que só terá fim com a morte. A natureza mata quando não necessita mais do indivíduo. (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

2. Quanto ás personagens:

  • Suas personagens, longe de serem heróis ou heroínas defensores dos fracos, perfeitos e íntegros, são criaturas complexas. São homens e mulheres comuns, dotados de sentimentos contraditórios, complexos, como qualquer ser humano. São sujeitas à atuação das forças sociais, como por exemplo: paixão pelo dinheiro, egoísmo, medo da opinião alheia, dissimulação, vaidade.

Ex: "[Marcela] negociava com o único fim de acudir à paixão pelo lucro, que era o verme roedor daquela existência." (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

       "A multidão atraía-me, o aplauso namorava-me." (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

3. Quanto ao processo narrativo:

  • Machado preocupa-se muito mais com a análise das personagens do que com a ação. Por isso, em suas narrativas, pouca coisa "acontece": há poucos fatos em suas histórias e muita reflexão.

  • Outra característica a prosa machadiana é a conversa com o leitor e a análise que o autor faz da própria narrativa. Muitas vezes o narrador interfere na história que conta: conversa com o leitor, antecipa fatos, abrevia ou alonga os capítulos e faz reflexões, que aparentemente, nada têm a ver com a história.

Ex: "Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o capítulo; vá direto à narração." (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

            "Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contradição cadavérica ..." (Memórias Póstumas de Brás Cubas)

4. Quanto à temática:

  • Nos contos e romances machadianos da segunda fase, os temas são os seguintes: a relatividade dos conceitos normais, o tédio, a loucura, a vaidade, o adultério, a contradição entre aparência e essência, a predominância do bem sobre o mal.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Características da obra de Machado e Assis (1)

Machado de Assis é o grande romancista brasileiro do século XIX, sua obra assume uma originalidade despreocupada com as modas literárias dominantes de seu tempo. 

A obra machadiana reflete as leituras do escritor, demonstrando estar em sintonia com o espírito da época. Escreve com correção e bom gosto, aproxima a linguagem escrita da falada, expondo modismos. Se, por um lado, os realistas que seguiam Flaubert esqueciam do narrador por detrás da objetividade narrativa, e os naturalistas, à exemplo de Zola, narravam todos os detalhes do enredo, Machado de Assis optou por abster-se de ambos os métodos para cultivar o fragmentário e interferir na narrativa com o objetivo de dialogar com o leitor, comentando seu próprio romance com filosofias, metalinguagens e intertextualidade.

Ou seja, sua narrativa apresenta peculiaridades que denotam a preocupação consciente do escritor com a linguagem. Constantemente, o leitor é convocado a participar da história que revela sua forma ficcional, estabelecendo uma metalinguagem, ou seja, a obra chama atenção para sua ficcionalidade, volta-se para si mesma, na tentativa de se examinar, como a justificativa que se encontra no primeiro capítulo de Dom Casmurro, tentando explicar o título do livro.

As obras de ficção machadianas possuem na maior parte das vezes um humor reflexivo, ora amargo, ora divertido. De fato, uma de suas características mais apreciadas é a ironia, que os estudiosos consideram a "arma mais corrosiva da crítica machadiana". Observa-se essas características na forma como descreve o caráter de suas personagens que, muitas vezes,  é ambígua, permitindo diferentes opiniões. O narrador vai contando a história em meio a ironias e ceticismo, compondo um humor de difícil definição, mas que se revela em desdém contra as convenções humanas, ridicularizando-as, desnudando as hipocrisias mais íntimas, criando tipos imortais.

Nota-se, também em suas obras um processo próximo ao do "impressionismo associativo", há de certo uma ruptura com a narrativa linear, de modo que as ações não seguem um fio lógico ou cronológico, mas que é relatado conforme surgem na memória das personagens ou do narrador. 

De acordo com os acadêmicos também há a constante presença do pessimismo. Suas últimas obras de ficção assumem uma postura desencantada da vida, da sociedade, e do homem. Crê-se que não acreditava em nenhum valor de seu tempo e nem mesmo em algum outro valor e que o importante para ele seria desmascarar o cinismo e a hipocrisia política e social. O capítulo final de Memórias Póstumas de Brás Cubas é exemplo cabal do pessimismo que vigora na fase madura de Machado de Assis e do narrador morto:
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borbas. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. (Memórias Póstumas de Brás Cubas, Cap. CLX)
A complexidade de sua obra se reflete na caracterização psicológica de suas personagens e no retrato criado para a sociedade da época. A paisagem preferida é a humana, expressa através de sutilezas que dão originalidade ao trabalho. Os temas comuns são: o adultério, o casamento, visto como forma de comércio ou troca de favores, a exploração do homem pelo próprio homem. As mulheres são o ponto forte da criação machadiana. A figura feminina representa mulheres recatadas, sedutoras, adúlteras, fatais e dominadoras. Elas estão presentes também em seus contos, cerca de quase duzentos.

Afim de melhor compreensão dessas caraterísticas vamos organizá-las  nas duas fases em que a obra machadiana foram divididas: a primeira que ainda apresenta características do Romantismo; e a segunda, que inaugura o Realismo no Brasil.

A primeira fase da ficção machadiana: romântica

Apesar de mais próximo da era romântica, Machado de Assis, em sua primeira fase, quebra com Ressurreição (1872) alguns traços característicos dos românticos, como a idealização exacerbada do amor e da mulher e revela o que há de melhor no escritor cearense, enaltecendo o aspecto urbano e social, formadores do indivíduo. Ainda, nesse período, escreve grande parte de sua obra teatral. Entretanto, nesse período de transição em que estava, o autor fluminense não era considerado romântico, nem realista. 
As principais características dessa fase são:

Conformismo com os valores da época: Machado de Assis escreve para uma classe burguesa e não se atenta – ou busca não demonstrar em sua escrita – os valores deturpados da época. De forma geral, o autor compactua com as hipocrisias que, posteriormente na segunda fase, seriam desnudadas.

Esquematismo psicológico: os romances inaugurais de Machado geralmente não possuem personagens com profundidade psicológica, isto é, são planos em sua essência. Machado constrói figuras que ficam na dicotomia bom e mau e, com isso, não há nenhuma discussão realmente aprofundada a partir delas.

Linguagem carregada de lugares-comuns: apesar de haver em alguns momentos a utilização de recursos estilísticos interessantes, a primeira fase do autor distancia-se da complexidade narrativa e do uso da linguagem da segunda fase. 
As principais obras da primeira fase de Machado de Assis são: Contos Fluminenses, Ressurreição, Histórias da Meia-Noite, A Mão e a Luva, Helena, Iaiá Garcia.

A segunda fase da ficção machadiana: realista

Machado de Assis, em sua segunda fase, reinventou o romance brasileiro. Aqui há um aprofundamento no psicológico de suas personagens e a historicidade dá lugar para o íntimo do ser humano, seus anseios, além da própria hipocrisia da sociedade burguesa, desnudada em livros como Memórias Póstumas de Brás CubasAlfredo Bosi afirma que é nessa fase que o escritor desenvolve a "análise das máscaras que o homem afivela à consciência tão firmemente que acaba por identificar-se com elas". As principais características dessa fase são: 
Destruição da narrativa linear: o narrador torna-se o centro do eixo narrativo e, portanto, a linearidade do enredo dissolve-se. Machado de Assis brinca com o leitor, que é lançado ao meio de dúvidas em relação às personalidades ambíguas das personagens.
Análise psicológica: o interior das personagens é desnudado e o modo de ver o exterior muda conforme as reações psicológicas delas. Um grande exemplo disso é o narrador em primeira pessoa de Dom Casmurro que, a todo momento, tenta provocar e convencer o leitor de seu ponto de vista.
Aparência e essência: há sempre essa dualidade nas obras machadianas da segunda fase. De um lado, vê-se o amor em contraponto à incapacidade de amar; a solidariedade frente ao egoísmo; a autenticidade e a dissimulação; a luta entre os valores morais das personagens; o racionalismo e o instinto. O mais interessante, porém, é que toda essa análise não esgota a imensidão das ações humanas descritas nas obras.
Análise dos valores sociais: a ficção machadiana, ao focar no interior das personagens, também permite desconstruir os valores das classes dominantes da sociedade brasileira. A vida social que reverbera na obra de Machado de Assis permite discutir sobre diversos temas, como o casamento, a escravidão e a política. Romances como Memórias Póstumas de Brás Cubas e contos como Pai contra Mãe são o ápice da incisiva crítica social de Machado.

Pessimismo: o pessimismo é presente em sua obra, mas essa visão pessimista do autor era decorrente de um reflexão sem ilusões da realidade. Um exemplo clássico é o fechamento do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, no qual o protagonista afirma “não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”, após relembrar todos os anos de sua vida fazendo parte da classe dominante fluminense.

Humor: Machado de Assis recebeu influências de autores ingleses como Jonathan Swift e Laurence Sterne, especialmente no que diz respeito ao humor presente em sua obra. O leitor ri, mas, no final, fica desolado com os fatos apresentados.
A desfaçatez de classe: por meio de personagens que estão em uma posição social abastada, Machado de Assis consegue denunciar suas imoralidades, seus desvios. Brás Cubas, por exemplo, apresenta diversos fatos em sua narração que evidenciam o descaramento moral da época.
Perfeição expressiva: a linguagem machadiana é inventiva e com alto grau de refinamento. Mesmo que parte de seu vocabulário pareça antigo, há uma sensação dominante de modernidade estilística.

Como se pode notar, há um avanço gigantesco entre a primeira e a segunda fase de Machado de Assis, demonstrando um amadurecimento que permitiu alçar seu nome entre os grandes da literatura brasileira. As principais obras da segunda fase do autor são: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Papéis Avulsos, Histórias sem Data, Quincas Borba, Várias Histórias, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires. 

 Fontes: 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

As obras do Bruxo do Cosme Velho, o Machado de Assis

Olá, meus queridos, vamos continuar falando  do maior nome da literatura brasileira, sim o maior! Não são poucos os críticos que falam isso. E não é para menos, ele supera todos os outros autores. Sua extensa obra , como já falamos, é bastante versátil; escreveu poesias, romances, dramas, contos, crônicas, artigos de jornal, críticas literárias, peças teatrais e muito mais. 

A obra de Machado de Assis é constituída de 10 romances, 216 contos, 10 peças teatrais, 5 coletâneas de poemas e sonetos e mais de 600 crônicas! Vou citar aqui apenas as principais:

Poesias

- Crisálidas (1864) - primeiro livro de poesia de Machado de Assis, escrito quando ele tinha 25 anos de idade.
- Falenas (1870) - livro de poesias da fase romântica de Machado.
- Americanas (1875) - livro de poesias variadas em que a tônica é o romântico retrato de personagens femininos do país antigo. As virtudes são, portanto, a tônica dos 13 poemas que compõem o livro. 
-Ocidentais (1880) - livro composto por 23 poemas.
-Poesias completas (1901) - coletânea das poesias publicadas anteriormente. O objetivo foi reunir a edição conjunta de seus quatro livros de poemas e trazer a público sua obra poética da juventude. Foi uma de suas últimas publicações ao lado de Esaú e Jacó (1904).

Romances

-Ressurreição (1872) - primeiro romance de Machado de Assis. Embora, seja da primeira fase, a romântica, é contido, moderado e sem os excessos sentimentais. Trata-se mais de um romance psicológico, "o que, se é inédito, é raro em romances românticos", segundo Luiz Antônio Aguiar.
-A mão e a Luva (1874) - segundo romance de Machado e sua primeira experiência como folhetinista de jornal. Publicado em 20 folhetins, com o subtítulo "Um perfil de mulher" nos rodapés do jornal O Globo.
-Helena (1876)- Aqui pouco temos da sutileza psicológica dos dois primeiros romances, verdadeiros estudos de mulheres, ou da sutileza filosófica dos romances da fase madura de Machado. Parece que depois de críticas negativas sobre A mão e a Luva quis mostrar que também era capaz de escrever um texto essencialmente folhetinesco.   
-Iaiá Garcia (1878) - Último romance da chamada fase romântica de Machado, tem como temas a família, o amor e o casamento.
-Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) - O livro tem como marcas o tom cáustico e o novo estilo na obra de  Machado de Assis, bem como a audácia e a inovação temática no cenário literário nacional, que o fez receber , à época, muitas críticas. Aqui, Machado rompe com a narração linear e objetivista para retratar o Rio de Janeiro e sua época, em geral, com pessimismo, ironia e indiferença - um dos fatores que fizeram com que fosse considerada a obra que iniciou o Realismo no Brasil.
-Casa Velha (1885) - romance de Machado de Assis, publicado em folhetins na revista carioca A Estação, de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886.
-Quincas Borba (1891) - este livro é considerado pela crítica moderna o segundo da trilogia realista machadiana, em que o autor esteve preocupado em utilizar para criticar os costumes e a filosofia de seu tempo, embora não subtraia resíduos românticos da trama.
-Dom Casmurro (1899) - é considerado pela crítica o terceiro romance da "trilogia realistade Machado de Assis, embora o próprio autor não tenha formulado esta categoria.
-Esaú e Jacó (1904) - é o penúltimo livro de Machado de Assis, lançado em 1904, quatro anos antes da sua morte, pela Garnier, e, segundo a maioria dos críticos, em pleno apogeu literário, depois de escrever, em 1899, Dom Casmurro, o mais célebre de seus livros. Esaú e Jacó se destaca por consolidar a suave maestria no domínio da narrativa. Machado despoja-se da excentricidade ocasional num texto que abandona resquícios do picaresco e envereda num realismo que retoma a melancolia e o lirismo que se iniciara na primeira fase de sua produção literária. Destaque são os personagens muito próximos da vida real.
-Memorial de Aires (1908) - é o último romance escrito por Machado de Assis, publicado no mesmo ano de sua morte, 1908. Está organizado como uma série de entradas em um diário e, como Memórias Póstumas de Braz Cubas, não tem um enredo único, mas compõe-se de vários episódios e anedotas que se interpermeiam.

Contos

- Contos Fluminenses (1870)
- Histórias da Meia-Noite (1873)
- Papéis Avulsos (1882)
- Histórias sem Data (1884)
- Várias Histórias (1896)
- Páginas Recolhidas (1899)
- Relíquias da Casa Velha (1906)

Teatro

- Hoje Avental, amanhã Luva (1860)
- Desencantos (1861)
- O Caminho da Porta (1863)
- O Protocolo (1863)
- Quase Ministro (1864)
- As Forças Caudinas (1865)
- Os Deuses da Casaca (1866)
- Tu, só tu, puro amor (1880)
- Não Consultes Médico (1896)
- Lição de Botânica (1906)

Algumas Obras Póstumas

- Crítica (1910)
- Teatro coligido (1910)
- Outras relíquias (1921)
- Correspondência (1932)
- A semana (1914/1937)
- Páginas escolhidas (1921)
- Novas relíquias (1932)
- Crônicas (19370
- Contos Fluminenses - 2º volume (1937)
- Crítica literária (1937)
- Crítica teatral (1937)
- Histórias românticas (1937)
- Páginas esquecidas (1939)
- Casa velha (1944)
- Diálogos e reflexões de um relojoeiro (1956)
- Crônicas de Lélio (1958)
- Conto de escola (2002)

Continua no próximo post.

sábado, 23 de janeiro de 2021

Carolina, o grande amor e a influenciadora da obra de Machado de Assis

 Queridos, hoje iremos falar de uma pessoa que não só foi o grande amor de Machado de Assis, mas foi também foi sua grande ajudadora e, por que não dizer, sua grande influenciadora. 

Machado de Assis casou em 12 de novembro de 1869 com Carolina Augusta Xavier Novais, irmã de seu  grande amigo poeta Faustino Xavier, ele com 27 anos e ela com 32.  A família da noiva não via com bons olhos o casamento dos dois, pois além de Machado de Assis ainda não ter reconhecimento social,  era mulato e epiléptico, mas o amor venceu, casaram e os dois viveram juntos por 35 anos. Eles eram apaixonadíssimos um pelo outro - conforme mostram as correspondências do casal. 
Carolina era uma mulher muito resolvida para seu tempo: inteligente, desembaraçada e determinada. Teve um papel muito importante na vida e na carreira de Machado. Ela foi determinante para que ele tivesse estabilidade emocional e também transitasse entre intelectuais. De acordo com os biógrafos, Carolina era uma mulher muito culta e apresentou  a Machado de Assis livros da Literatura Portuguesa e da Literatura Inglesa e outros clássicos da literatura universal, foi assim que redefiniu o estilo dele para a maturidade. 
Serviu de enfermeira, secretária e redatora, pois, além de revisar e "passar a limpo" os textos do escritor, também opinava sobre seus textos. Segundo a biógrafa Miguel- Pereira, “Machado, como todo autodidata, tinha enormes lacunas de cultura, das quais muitas parecem haver sido preenchidas graças às indicações de Carolina”. A biógrafa diz ainda que a companheira de Machado não apenas influenciou o escritor com o seu repertório cultural, mas também teria sido fundamental no desenvolvimento da escrita dele, corrigindo deslizes ortográficos, fazendo apontamento e modificações em seu textos.
Em uma das cartas escrita a sua amada Carolina, Machado declarou que ela não era como as mulheres vulgares que conhecia, ao contrário, seu espírito e coração eram prendas raras.
O casal não teve filhos, pois Carolina não conseguiu engravidar, por isso os dois adotaram uma cadelinha, batizando-a com o nome de Graziela. Pasmem, tratavam-na como filha! Não foi à toa que Brás Cubas, dos principais personagens de Machado de Assis afirmou "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria."
O casamento de Machado de Assis durou até a morte da esposa em 20 de outubro de 1904. Ela morre aos 70 anos de idade! Ele temia muito que ela morresse antes dele, pois não queria sofrer a perda da esposa. Em carta enviada ao historiador Joaquim Nabuco dois meses após a perda, temos um fragmento dos sentimentos de Machado por Carolina. “Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfado­nha, antes me é grata, porque é um modo de viver com ela, ouvi-la, assistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada. Éramos velhos, e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor”, escreveu ele ao amigo.  
Depois de sua morte, a vida perde o encanto para Machado de Assis e ele entra em profunda depressão, raramente saia de casa, encontrava consolo em sua solidão com sua cadelinha, sua única companhia.
Machado de Assis, saudoso de sua esposa, escreve um de seus melhores sonetos em sua homenagem:

Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração de companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro...

Trago-te flores - restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados;

que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos.

Morte de Machado de Assis

Já idoso, doente e tomado pela depressão, Machado de Assis falece no dia 29 de setembro de 1908, aos 69 anos de idade, em sua casa. Nem em em seus últimos dias de vida - já com a vista fraca, uma infecção intestinal e uma úlcera na língua - aceitou a presença de um padre para tomar sua confissão, alegando não querer ser hipócrita. No geral, teve uma morte tranquila, cercado do carinho dos amigos mais íntimos: Mário de Alencar, José Veríssimo, Euclides da Cunha, Coelho Neto e outros.
Em um delicado gesto, pediu que, assim que morresse, fosse queimado o móvel em que guardava relíquias de amor, como as cartas trocadas com Carolina quando eles ainda eram namorados, pedaços do véu de noiva, a grinalda e os sapatinhos de cetim usados por ela em seu casamento. Em seu último romance foi Memorial de Aires, Machado foi categórico ao escrever "O livro é derradeiro; já não estou em idade de folias literárias nem outras".
Deixou todos os seus bens a menina Laura, filha de sua sobrinha Sara Gomes da Costa e de seu esposo major Bonifácio Gomes da Costa, seu testamenteiro.
Sua morte foi amplamente lamentada por diversos artistas e intelectuais brasileiros, dentre os quais o jurista Rui Barbosa, que discursou no velório do autor, representando a Academia Brasileira de Letras. Seu corpo foi levado em uma carreta do Arsenal de Guerra, só destinada às grandes personalidades. O cortejo fúnebre saiu da Academia para o cemitério de São João Batista, onde foi sepultado ao lado de Carolina, cumprindo aquilo que havia prometido quatro anos antes à mulher no soneto de despedida (À Carolina). Apesar de todo o seu pessimismo, pouco antes de morrer suas últimas palavras foram: "A vida é boa". 
Em 21 de abril de 1999, os restos mortais do casal foram transladados para o o Mausoléu da Academia.

Leia mais em: https://claudia.abril.com.br/cultura/carolina-a-mulher-que-mudou-o-rumo-da-obra-de-machado-de-assis/

Continua no próximo post.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Machado de Assis: O Cavaleiro da Ordem das Rosas

 Como vimos no post anterior, Machado de Assis aos 20 anos de idade já frequentava os círculos literários, jornalísticos  e políticos da capital do Império, o Rio de Janeiro.


Em 1860, Machado é convidado por Quintino Bocaiúva para trabalhar na redação do Diário do Rio de Janeiro. Nesse jornal, exerceu a função de repórter e cobria as atividades do Senado do Império. Atuou também como crítico teatral na Revista dos Teatros, além de escrever para a Semana Ilustrada, com o pseudônimo de Doutor Semana. 

Machado de Assis, nessa época, frequentava os saraus literários onde recitava seus poemas e ouvia músicas. Pelo visto, além de trabalhar muito, gostava de se divertir também! 

Em 1862, foi censor teatral do governo, não recebia nenhuma remuneração nesse cargo, no entanto tinha acesso livre aos teatros e, assim teve mais fontes de inspiração e maior contato com o meio cultural, o que foi indispensável para a criação de suas futuras obras.

Nessa mesma época, colaborou no periódico O Futuro, dirigido por Faustino Xavier de Novais, irmão de sua futura esposa, uma portuguesa culta que se chamava Carolina Augusta Xavier de Novais.  

O seu primeiro livro publicado em 1864, Crisálidas, foi em homenagem a seus pais Maria Leopoldina e Francisco José. Cinco anos mais tarde, seu amigo poeta Faustino Xavier morre e três meses após casa-se com Carolina, com quem viveu por mais de três décadas.


Não podemos deixar passar que nosso Machado de Assis recebeu do Imperador, em 1867, o grau de Cavaleiro da Ordem das Rosas por serviços prestados às letras nacionais. 

OBS: A Imperial Ordem das Rosas destinava-se a premiar civis e militares, nacionais ou estrangeiros, que se destacassem por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado.

Em 1872, seu primeiro romance, Ressurreição, é publicado e é bem aceito pela público e pela crítica da época. Logo em seguida, torna-se burocrata, é nomeado primeiro oficial da Secretaria da Agricultura e três anos depois é promovido pela princesa Isabel à chefia da seção. A partir de então, passa a ser melhor remunerado e ganhar direitos autorais por seus livros. Então muda-se com sua esposa para uma área mais luxuosa, no bairro do Catete. Assim garantiu sua subsistência até o fim de seus dias.

No ano seguinte, Machado de Assis recebe convite de seu amigo Quintino Bocaiúva para escrever para o jornal O Globo, no qual começa a publicar seus contos, crônicas, romances e poesias, além de escrever também para outras revistas: O Cruzeiro, A Estação, Revista Brasileira, Gazeta de Notícias.

Em 1881, depois de regressar de um retiro para cuidar de sua saúde, tem seu primeiro romance publicado - Memórias Póstumas de Brás Cubas, obra revolucionária e fora dos padrões convencionais da época. Esse romance, ao lado de O Mulato, de Aluízio e Azevedo, marca o início do Realismo na Literatura  brasileira.

Em 28 de janeiro de 1897, Machado de Assis, com a ajuda de seus amigos intelectuais da época, entre eles o paraense José Veríssimo, fundou a Academia Brasileira de Letras (ABL). Nomeado para a cadeira nº 23 e eleito o primeiro presidente  da instituição, cargo que ocupou até sua morte.

Machado de Assis também é conhecido como o Bruxo do Cosme Velho, provavelmente porque o escritor residiu por muitos anos com sua Carolina na Rua Cosme do Velho, nº 18, no Rio de Janeiro (residência mais famosa do casal, onde viveram até a morte) e neste endereço há uma lenda. por conta de um episódio em que Machado de Assis queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança, certa vez, o viu e gritou "Olha o Bruxo do Cosme Velho!". Essa lenda acabou se popularizando e fez com que o poeta Carlos Drummond de Andrade escrevesse A um bruxo, com amor", uma homenagem a vida e a obra de Machado de Assis.

Continua no próximo post.

Texto adaptado da Revista Discutindo a Literatura Ano 1 - nº 1

* https://s.ebiografia.com/img/ma/ch/machado_de_assis_20_anos_2_c.jpg

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Machado e Assis: vida e obra do maior nome de toda a Literatura brasileira

 Olá, meus queridos, estou de volta aqui em nosso espaço de interação. A partir de hoje estarei postando alguns textos sobre a vida e a obra de um dos mais ilustres dos escritores brasileiros: o nosso querido Machado de Assis ou Machadinho, como era chamado na infância. Espero que vocês curtam, porque eu amo demais as obras desse escritor.

Primeiros Passos

Ícone da Literatura do século 19, Machado de Assis tem sido homenageado por suas obras que têm encantado, não só os amantes da Literatura brasileira, mas também da Literatura internacional. 
Além de ser um dos fundadores da Academia Brasileira  de Letras, Machado de Assis foi também poeta, contista, cronista, teatrólogo, romancista, jornalista. Gente, ele conseguiu transitar por vários gêneros literários! Publicou mais de 200 contos, 10 romances e demais publicações de diversos gêneros, como folhetim, peças teatrais, entre outros. Poucos conseguiram essa proeza.
O autor presenciou acontecimentos históricos, como a Abolição da Escravatura e a passagem do Brasil Império para Brasil República.
Seu nome completo: Joaquim Maria de Assis. Nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro.
Seu pai: Francisco José de Assis, um pintor de paredes, descendente de africanos alforriados.
Sua mãe: Leopoldina de Assis, uma imigrante portuguesa da ilha de São Miguel.
Mulato. Pobre. Autodidata. Não frequentou escola regular, mas foi referência ímpar entre os intelectuais da época no Brasil.
Teve uma infância muito sofrida, mas nem por isso se acomodou. Começou a trabalhar deste muito cedo para ajudar seus pais, entretanto seu maior sofrimento ocorreu quando sua irmã caçula morreu vítima de de sarampo, durante uma epidemia que ocorreu no Rio de Janeiro. Cinco anos depois, sua mãe morre enfraquecida pela tuberculose, quando Machado de Assis tinha apenas 10 anos de idade.
Além disso, sua saúde era muito frágil; era epilético e gago. Após a morte de sua mãe, seu pai se casa com Maria Inês. Mas, em 1851 ele morre e Machado de Assis começa a vender doces feitos por sua madrasta, que era cozinheira de uma escola. Foi dessa forma que ele teve contato com professores e alunos e foi incentivado por sua madrasta a se dedicar aos estudos, mesmo sem frequentar regularmente à escola. Também, por intermédio desse trabalho, Machado aprende o idioma francês com uma senhora francesa. 
Anos depois, nosso futuro escritor, começou a trabalhar como tradutor. O primeiro romance traduzido por ele foi Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, logo em seguida, vieram outros livros de autores franceses. O aprendizado do idioma francês foi só o começo de uma brilhante carreira na área das letras. Na sequência, logo aprende inglês e alemão, sempre como autodidata. 
Teve aulas de conhecimentos gerais e Latim com o padre Antônio Sarmento, quando foi contratado como sacristão. 
Nos intervalos do trabalho, Machado ia admirar as vitrines das livrarias e em um desses momentos foi convidado a entrar para conhecer a livraria e a tipografia, quando para sua alegria, recebe a oferta de ser aprendiz de tipógrafo. Na época, essa livraria estava à procura de novos talentos e nosso pequeno prodígio não perdeu a oportunidade de publicar seu primeiro trabalho literário - o poema Ela - veiculado  no jornal Marmota Fluminense, em 12 de janeiro de 1855. Isso possibilitou a Machado de Assis contribuir em outros jornais como cronista, contista, poeta e crítico literário.
Trabalhou como tipógrafo na Imprensa Oficial por 40 anos. Aqui conheceu o escritor Manuel Antônio de Almeida, Gonçalves Dias e José de Alencar, entre outros autores da época e começou a dar passos mais largos dentro da Literatura Brasileira. 

Continua no próximo post.


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